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domingo, 19 de junho de 2011

SENSO TEATRAL COM CAROLINA VILLAÇA

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
A convidada agora é a atriz Carolina Villaça, uma recente querida amiga.Carol desenvolve um trabalho em teatro com um grupo de Deficientes Visuais pela Divisão de Cultura de São Roque.

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Minha família, por parte de pai, sempre foi ligada ao teatro. Desde pequena eu me lembro de “brincar de teatro”, de montar peças caseiras e participar um pouco de algumas produções da minha tia Graça Villaça aqui em São Roque. Quando eu fiz aulas com o Humberto Gomes, ele me perguntou “O que te dá frio na barriga?” e desde aquele momento eu me conscientizei que estar envolvida com teatro é o que sempre me deu “frio na barriga”. E que o teatro sempre fará parte de mim seja da maneira que for.
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Eu me lembro de flashs de um espetáculo dirigido por minha tia Graça. Creio que se chama o “Fantasminha Pluft”. O que mais me recordo é a voz da minha outra tia Cláudia Villaça dizendo “Pluft! Pluft! Venha comer os seus pasteizinhos de vento Pluft!”. É muito bom lembrar disso...!
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Quando eu estava no primeiro ano de Artes Cênicas na UEL, assisti o teatro de rua chamado “A Saga de Canudos”, do grupo Oi Noiz Aqui Traveiz. Esse grupo me emocionou por conseguir harmonizar vários elementos na cena e ainda, valorizar a história que estavam contando. Fora a paixão dos atores que quando chegavam perto de mim: eu estremecia! Nesse dia, eu me apaixonei por teatro de rua!
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Fazer faculdade em Londrina – PR, me trouxe a oportunidade de assistir vários espetáculos pelo FILO (Festival Internacional de Teatro). Não me lembro bem o ano, mas o grupo russo Derevo se apresentou com o espetáculo Ketzal. Deve ter sido no primeiro ou segundo ano do Curso, porque lembro que eu não conseguia assimilar todos os signos que estavam em cena. Mas eu jamais me senti como quando vi aquele espetáculo. Quando eu e meus amigos saímos do teatro tínhamos certeza que algo tinha mudado dentro da gente, mas não conseguíamos por em palavras. Creio que até hoje eu não consiga de tão forte que foi aquela experiência!!!
Você teve algum padrinho no teatro?
O primeiro nome que eu tenho que citar é da Dani Oncala. Foi ela que me apresentou o teatro na Brasital, a UEL e que até hoje me abre caminhos. Sou enormemente grata por ela ter me mostrado tantas oportunidades e ainda me mostrar.
Dentro da faculdade minha madrinha é a Ceres Vittori. Que nunca desistiu de mim e que eu tenho como modelo de vida mesmo.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Já!!! E posso dizer que foi um grande alívio!!!
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Poxa Vida, tem várioooos! Mas tem um, do grupo tcheco Farm in the Cave chamado “Sclavi” que eu gostaria mesmo. Porque esse espetáculo tem atores que, ao meu ver, são meu ideal. Tecnicamente perfeitos com suas vozes e corpos disponíveis para qualquer coisa. E além disso, se comunicavam de uma maneira primordiosa com o público! Dava pra sentir a energia deles de longe! Com certeza isso se deve ao intenso trabalho deles; portanto, eu gostaria de ter participado de toda a preparação e montagem.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim!! Muitos! Alguns dos espetáculos que participaram do FILO e que eu precisei ver de tão bom que eram. Mas a maioria que assisti diversas vezes eram os que meus colegas de faculdade foram atores. Aprendi muito com isso e ficava admirada com a atuação deles!
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Pergunta difícil essa. Devo confessar que conheço muito pouco de teatro brasileiro e que agora estou correndo atrás para saber mais. Um dramaturgo- diretor- ator que sou loucamente apaixonada é Dario Fo. Ele consegue sintetizar tudo o que acredito em teatro nas obras dele.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Não existe uma apenas. Gosto muito da proposta do grupo Oi Noiz Aqui Traveiz e da Cia. Latão.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
O que mais me fascina é teatro de rua com toda a certeza! Porque é um gênero que pode chegar a qualquer lugar, em qualquer pessoa e exige um trabalho do ator que supere seus limites!
Mas a minha verdadeira paixão é o que entendemos hoje por Commedia dell’Arte, apesar de que ninguém possa afirmar com certeza absoluta o que foi e o que é.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Creio que mais importante do que o que se queira comunicar, é o modo como se faz essa comunicação. Então, na minha visão, fico com a segunda opção!
Cite um cenário surpreendente.
O cenário de “L’Oratório d’Aurélia” era o espetáculo em si! Era um sonho materializado ali, na sua frente!
Cite uma iluminação surpreendente.
De “Ketzal” e “L’Oratório D’Aurélia”
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Um amigo meu de faculdade chamado Gustavo Garcia me surpreendeu demais. Em muitas de suas cenas, sua atuação sempre foi muito enérgica, “pilhada”. Mas no espetáculo de formatura, ele fez um mudo apaixonado pela lua. Me arrepia só de lembrar de ver que toda aquela energia estava focada no seu olhar pra lua e ele, parado!
O que não é teatro?
 O que não comunica, o que não chega, não toca o “outro”.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Talvez a linguagem mais aberta, ao meu ver, seja o teatro. Tudo o que é humano é válido nas artes!
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
Essa é uma questão que me intriga sempre e que nunca consigo uma resposta. Existe um paradoxo nessa questão de tecnologia: ao mesmo tempo em que ela conecta as pessoas, as relações estão se tornando cada vez mais superficiais. O teatro, tanto pra quem o faz quanto para quem o assiste, exige que haja contato humano. Eu prefiro e quero acreditar que o teatro é uma solução para esse distanciamento do homem consigo mesmo e com os outros...!
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
“Manual Mínimo do Ator” de Dario Fo; “Esperando Godot” de Samuel Becket; “Do Amor e Outros Demônios” de Gael Garcia Márquez.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Diretor: Heloisa Bauab
Autor: Dario Fo
Ator: Charlie Chaplin
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O melhor espaço pra mim é a rua! Porque é democrática, exige muito do ator e onde se tem mais sinceridade do público. Agora, sejamos sinceros: infelizmente na nossa região falta um espaço “tradicional” (leia-se palco italiano, com equipamento de luz, som, camarim, etc.) adequado e que esteja efetivamente disponível ao teatro!
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Estranhamente, todo palhaço que eu gosto me faz chorar. Deve ser porque meu sonho é ser palhaça e pra mim é uma linguagem extremamente difícil. Existe um espetáculo chamado “The Art of Dying” que sempre lembro. É uma história triste, de um palhaço que descobre que tem câncer de pulmão. Mas é linda! E mágica! É uma encenação muito importante pra mim!
O teatro é uma ação política? Por quê?
Quando eu decidi ser atriz foi porque eu acreditava que o teatro poderia mudar as pessoas. Ainda acredito nisso. Seja de forma direta ou indireta quem faz teatro mostra através da sua arte aquilo o que realmente acredita. Isso já é algo extremamente político pra mim!!!
Por que você faz teatro na região?
Tentei por um ano continuar com teatro na cidade em que me formei – Londrina. Como não consegui, voltei pra “casa”. Pra ser sincera não tinha muita esperança em encontrar muita ação teatral por aqui. Mas... ainda bem que eu estava errada!! Com o tempo percebi que o teatro está renascendo na nossa região. E o que me deixa mais contente é ver nos olhos das pessoas paixão pela busca do teatro. A academia me tornou muito cética e está sendo essencial eu voltar a ter contato com essa paixão. Não posso dizer que FAÇO teatro na região. Mas posso dizer que quero, e muito, fazer! Seria perfeito termos um festival de teatro no inverno em São Roque... quem sabe mais esse sonho não se torne realidade? Que Dionísio nos ouça!!  
Carol Villaça em "Movimento Mínimo"

http://www.spescoladeteatro.org.br/


  

Um comentário:

  1. Carolina, minha querida! Eu estava fazendo uma pesquisa para o meu mestrado e não tenho idéia de como vim parar aqui... O teatro, a Camille Claudel, o amor...tudo junto e misturado. Teatro cruzando o nosso caminho! Espero que continue...Amei a entrevista e concordo com a sua colocação a respeito do digníssimo Gustavo Garcia! Nem sei se você vai ler esse comentário! Espero que sim! Beijos com carinho! Helena

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