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quarta-feira, 30 de março de 2011

PRÊT-À-PORTER 10

No último sábado (26) fui assistir as performances dos atores e atrizes do CPT - Centro de Pesquisa Teatral do SESC. 
Para quem não sabe, o CPT é reconhecido como um dos principais espaços de experimentação em teatro no país.Coordenado por Antunes Filho,cujo método de trabalho é reconhecido tanto pelo seu rigor técnico quanto pelos seus pressupostos humanísticos, tem como objetivo principal a pesquisa de novos textos, linguagens e configurações cênicas.
As performances Prêt-à-Porter expõe a síntese do método para o ator desenvolvido por Antunes, por meio da apresentação de cenas naturalistas. São cenas totalmente criadas pelos atores, que se encarregam de encontrar o tema, desenvolvê-lo através de improvisações, realizar a dramaturgia e se auto-dirigir.
"As cenas, os atores, deveriam ter em mente um sentido franciscano, minimalista (as cenas quase sempre vazias, sem nada, só com os elementos que fossem realmente necessários e correlatos à ação), fugindo a poluição visual da sociedade do espetáculo - isso já como uma permanente filosofia em quase tudo que o grupo encena. Procuramos resgatar muitas e muitas significações já quase esquecidas nos seres humanos de hoje: a sensibilidade, o sentimento, o paciente fazer do homem, o gesto perdido, a palavra esquecida, o encontro fortuito - simples e significativo, coisas que o homem traz dentro de si. Tudo isso está se tornando, para nossa infelicidade, sopro de coisas deixadas, voláteis, por causa da violência dos tempos em que vivemos.", nas palavras de Antunes.
Para nós, "gente de teatro", presenciar essas performances é uma experiência rica em aprendizado e um estímulo a mais para continuar trabalhando e estudando muito. 
Para mim, a atuação de Marcos de Andrade em "O homem das viagens" (uma das três performances) ficará gravada em minha memória para sempre... 


Foto
Adorável Callas

sábado, 26 de março de 2011

FESPIMA 25/03/2011

EDUARDO BARROS
TOM RAVAZOLLI
JOAQUIM MARQUÊS



AMILTON CARVALHO
RODOLPHO HEINZ
OUTROLUIZ
GIOVANI HUGGLER



PRIMEIRA NOITE FESPIMA 2011


Abrem-se as cortinas e vemos Giovani Huggler (com a potencialidade ator que eu sempre disse pertencer a ele...) e nos emociona com seu corpo carregado da memória teatral mairinquense. Beija o palco e seus gestos conduzem nosso olhar para um pequeno retrato colocado numa das paredes do teatro, cuja luz não acendeu, para que pudessemos apreciar a face risonha de um homem chamado Alfredo Ercolano Giuseppe Bertolini, presente nessa noite na abertura do Fespima 2011, através do corpo de Giovani.  Tio Beppe foi o precursor da arte teatral na cidade lá pelos idos do começo do século 20, cuja biografia sou a feliz detentora, por tê-la realizado na conclusão da minha licenciatura em História.
Na sequencia assistimos “La Vie” de Outroluiz, outro orgulho mairinquense, por estar devolvendo ao palco da cidade, algo que lhe foi dado através dessa história iniciada por Tio Beppe.
A seguir a voz de Elis Regina e um corpo lindo dança, tão lindo quanto a voz da outra...Esse corpo é de Eduardo Barros que movimenta-se diante de um porta-retrato, cujas linhas retangulares “frias” ganham contornos “quentes” por contracenar com as linhas do corpo de Dú.
Rodolpho Heinz entra em seguida com seu destemor característico. Fui a responsável por dar-lhe uma incumbência nada fácil: tratar da solidão pelas palavras de Leo Ferré/Roberto Freire (duas figuras nada simples de se compreender). Freire, um grande anarquista, dizia já ter vivido todas as formas possíveis da solidão, da mais criativa e alegre à mais miserável e trágica e que nada poderia ser mais solitário que um homem morto e é nessa solidão que Roberto Freire está.
Alguém já disse que a arte possibilita o desenvolvimento e a educação dos sentimentos e desenvolve e educa os pensamentos, assim penso que continuando na trilha do teatro, Amilton Carvalho, nos brindará no futuro com belas interpretações.
Ontem, não pude, por estar operando o som, desfrutar da fábula de José Saramago pela voz e corpo de Joaquim Marquês. Mas, no nosso último ensaio, tive o privilégio dessa emoção.
Nossos corações enlutados pela perda de dois lusitanos: meu escritor preferido e o pai de Juh, se uniram para brindar com uma platéia emocionada e comprovar as palavras de Dario Fô: “um homem só morre quando é esquecido pela comunidade”.
Tivemos ainda, os devaneios de Taís Dantas e pra fechar o ciclo, outra cria da casa, Tom Ravazolli, devolvendo ao palco da cidade, algo que lhe foi dado através de uma história que Tio Beppe começou a contar.
E que nós continuaremos contando...
Meus agradecimentos para:
Giovani, pela noite..
Dani Oncala, pela mediação
Gayby Pinho, nossa linda maquiadora e contra-regra  
Biah Marques pelo registro fotográfico 
CiadeEros, pela presença e...
Marco Lessa pela montagem do castelo e pela emoção do Café...

  

segunda-feira, 14 de março de 2011

THEATRON JOVEM

“A função da Arte não é o de passar por portas abertas, mas o de abrir portas fechadas.” (Ernst Fisher)

Concluo neste semestre uma especialização em Arte e Educação e nos fóruns com professores de Artes de várias regiões do estado, já ouvi casos absurdos do tipo: diretora que não permite o uso do anfiteatro da escola para não sujar ou por causa da “bagunça” dos estudantes.
Acompanhando o trabalho do professor Giovani Huggler, há mais de 10 anos com teatro na escola, devo considerar que a frase de Fisher, lhe cai muito bem: Giovani nunca fecha portas, sempre as abre.
Ajudar os jovens a fazer escolhas produtivas em suas vidas, tem sido praticamente uma missão do professor.
“O amor de mau humor”, produção do grupo Theatron Jovem formado por alunos da escola Lelis Ito, coordenado por Huggler, encerrou suas apresentações na noite de ontem e assisti-los me estimula a escrever sobre a importância do teatro estudantil.
Tomando de empréstimo a reflexão do professor da Universidade de Sorocaba, Joaquim Gama, a possibilidade de lançar um olhar inovador e mais investigativo sobre a cena são oportunidades que o teatro estudantil oferece, por não sofrer a pressão dos modelos profissionais.
O elenco com capacidade de comunicação com a platéia e a condução acertada do professor em respeitar as características principais do grupo, garantem o elogio ao trabalho do Theatron.
Vale ressaltar, porém, usando do aprendizado em Arte-Educação, que por estar inserido em ambiente educacional, quem conduz o grupo deve levar sempre em conta a dimensão pedagógica do trabalho no que tange a escolha ou criação de um repertório adequado para suas montagens e nesse quesito, me preocupa  ver um trabalho que reproduz “chavões” sobre o tema abordado: a guerra dos sexos. 
O teatro na escola não tem, como erroneamente se pensa, de desenvolver apenas conteúdos de disciplinas do currículo, mas se o desejo é o incentivo a criação, não seria mais interessante pensar criticamente nos conteúdos explorados pela televisão e internet quanto ao tema?  
Se a arte e a educação não mudam a sociedade, como diz Marcuse, devem mudar, pelo menos, as pessoas que são fundantes dessa transformação. Esse, meu desejo aos jovens do Theatron.
E, se o processo de montagem de uma encenação torna-se o campo experimental para a aprendizagem teatral, Giovani utiliza com propriedade desse instrumento.
Meu olhar aqui, foi apenas quanto ao pedagógico, com intuito de contribuir com esse trabalho incansável que o professor realiza há tanto tempo.   
THEATRON

terça-feira, 1 de março de 2011

ERA UMA VEZ NO MIRIM


Uma das ações culturais para este ano da Divisão de Cultura da Prefeitura da Estância Turística de São Roque é levar para os bairros da cidade, circo, teatro e cinema.
A CiadeEros está dentro da programação, com Era uma vez e no último sábado (26) levamos a peça até o bairro Mirim (18 km distante do centro). 
Nossa expectativa era grande, pois o local da apresentação, a quadra esportiva da Escola Municipal do bairro, era um desafio, principalmente na questão vocal, e também com relação ao público (mesmo que eu viva afirmando que seja para 1 ou milhão, o prazer deve ser o mesmo).
O elenco da peça está agora em 14, com a saída de 3 integrantes, e mesmo lamentando as perdas, devo considerar que um elenco maior não caberia na van (a piada não foi boa, mas a companhia é cheia de fazer "gracinha" e eu tô aderindo).
Com as adaptações necessárias para o espaço (a trave do futebol ganhou cortinas e transformou-se também no apoio para o varal da Maria Ninguém), apresentamos para um público de umas 70 pessoas entre crianças, jovens e adultos e devo acrescentar que os temores se foram, a observar a atenção da platéia para a nossa história.
Após a apresentação, no camarim improvisado no refeitório da escola, um grupo de fãs, aguardava seus personagens preferidos para um autógrafo. 
Não é demais?
Abraços para a Sandra (que faz um café boooom) e pra Ruth, diretora da Emei Mirim pela acolhida dada a CiadeEros.
Próxima apresentação dia 26/03 no Juca Rocha.


CIAdeEROS E COLETIVO CÊ

 
Mas o quê um teatro sagrado poderia ser?

“O teatro é o último fórum onde o idealismo ainda é uma questão aberta.”
(Peter Brook)
Tomei o Coletivo Cê na sexta (04/02) com destino ao Sítio Santo Antonio e por algum motivo ainda não consegui sair de lá. Na tentativa de explicar o motivo, posso divagar sobre alguns...
Vi um teatro de cores e movimentos, de tecidos finos, de sombras, de palavras poéticas, de silêncios e sussurros, de vôos de fantasias, de brilhante leveza e de todas as formas de mistérios e surpresas.
Toda essa descrição está apoiada em Peter Brook, falando das glórias do teatro do final da década de 40, “de uma Europa ferida que parecia ter um objetivo comum: recuperar a memória de uma graça perdida.”
Vale a pena destacar trechos do livro do diretor inglês, “O teatro e seu espaço” para traçar paralelos com o trabalho do Coletivo Cê:
Do incêndio da Ópera de Hamburgo só restou o palco. Mas a platéia se reuniu lá e, num tablado, tendo como fundo o cenário precário, apoiado sobre uma parede nua, alguns cantores se movimentavam, subindo e descendo para interpretar “O Barbeiro de Sevilha”; isto porque, nada podia impedi-los de agir assim. Cinquenta pessoas se amontoavam num sótão muito pequeno, enquanto que nos poucos centímetros que restavam, um punhado de ótimos atores, resolutamente, continuava a praticar sua arte.”
Longe de mim qualquer tipo de comparação com a horrível situação histórica, mas sim com o teatro sagrado, definido por Brook como o teatro do invisível tornado visível, e na minha visão “Desterro” traz em seu bojo a ressacralização do teatro.
Um teatro servido por um cortejo de atores e diretor devoto, criando a partir de suas próprias vísceras e promovendo uma sucessão de violentas imagens cênicas, explodindo matéria humana.
Brook fala também de termos perdido todo o significado de ritual e cerimônia, mas que as palavras permanecem conosco e que velhos impulsos continuam a agitar-se em nós.
Fomos testemunhas da coragem dos atores na exposição de suas reservas emocionais, do pensamento claro na dramaturgia de Janaina Silva e de toda uma idéia invisível corretamente mostrada por Júlio Mello que proporcionou ao público uma experiência que alimentou, acendeu espíritos.
A questão básica: por que afinal o teatro? O Coletivo aponta uma resposta: por objetivos nobres e ser nobre só significa ser decente.
É certo que aqui em São Roque, uma cidade com mais de 350 anos, nós artistas da região, nos ressentimos de não termos um edifício teatral daqueles de arquitetura austera, cornucópias, cortinas vermelhas e de certa feiúra na decoração, justamente para depois explodir tal espaço e ocupar as ruas, as praças, o Sítio Santo Antonio.
Não podemos fazê-lo ainda, porque temos medo do sol e da chuva atrapalhar nossos ensaios. Há também a possibilidade de sermos “meninos lesmas”, mas há algo mais a refletir...
No teatro, há séculos a tendência tem sido de colocar o ator numa distância remota, numa plataforma, emoldurado, decorado, iluminado, pintado, com sapatos altos – para convencer o ignorante de que ele é sagrado, de que sua arte é sacra. Era veneração, ou haveria por trás disto o medo de que algo seria exposto se a luz fosse forte demais ou a distância próxima demais? Hoje já expusemos a trapaça. Mas estamos redescobrindo que um teatro sagrado é ainda aquilo que precisamos. Onde curá-lo? Nas nuvens ou na terra?”
Meus agradecimentos a Peter Brook por me emprestar algumas ideias e palavras para traduzir aquilo que eu estava sentindo e ao Coletivo Cê, pelo qual estou esperando para me ajudar a voltar para a casa.
Minha mala está pronta...  
Lisa Camargo
CiadeEros
 Verão, 2011
Obs.: Para quem quiser conhecer o Coletivo Cê: http://coletivoce.blogspot.com