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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

APRESENTAÇÃO DA MORTE DE MANÉ BUFÃO NO NOSTRA-VILLA 11/12/2011

Declaração do Riso da Terra
Quando os deuses se encontraram,
E riram pela primeira vez,
Eles criaram os planetas, o dia e a noite.
Quando riram pela segunda vez,
Criaram as plantas, os bichos e os homens.
Quando gargalharam pela última vez,
Eles criaram a alma.
(De um papiro egípcio) 

Beatriz Costa - Dona Morte

Lélis Andrade - Briguella

Dayane Canavesi - Dona Ragonda
Nosso público

Nosso público

Renan Martins - Mané Bufão

Ana Claudia Oliveira - Totonha

ATÉ 2012 EM NOVA TEMPORADA DE

"A MORTE DE MANÉ BUFÃO"
com a CIAdeEROS

terça-feira, 29 de novembro de 2011

BELA MÚSICA EM VOLUME IDEAL


Espetáculo: Ditinho Curadô
Grupo: Grupo Teatral Nativos Terra Rasgada (Sorocaba – SP)
Boulevard São João, 23 de novembro de 2011.
Leitura crítica de José Cetra Filho

        Dois anos se passaram desde a apresentação de Zorobe pelo grupo de Sorocaba na Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas. Na ocasião apontei alguns problemas na encenação sendo que o principal era certa timidez que envolvia todo o espetáculo, o que me levou a metaforizar que eles tocavam uma bela música em volume muito baixo.
         Fiquei muito feliz em assistir ao novo trabalho do grupo e constatar que aquela timidez transformou-se em ousadia e criatividade, elevando o volume de sua música a um nível ideal.
         Apoiado num texto de João Bid que tem boa estrutura dramatúrgica além de uma história para contar, o grupo realizou um espetáculo gostoso de ver, sem abrir mão de mostrar certas mazelas da sociedade brasileira.
         A história é muito simples: Ditinho, um pobre diabo, mas muito esperto, recebe o dom de se comunicar com os santos e pedir a interferência dos mesmos na resolução dos problemas das pessoas. A partir daí começa a romaria dos necessitados: Mané desempregado, Dirce que tem problema de alagamento no barraco onde mora, um pai cujo filho está muito doente e assim por diante. Ditinho vê aí a oportunidade de tirar algum proveito da situação. Surge então um deputado para fazer uso do prestígio de Ditinho junto ao povo na campanha para eleição do prefeito da cidade. Aos poucos as estratégias e os milagres vão minguando, Ditinho é abandonado por todos e acaba totalmente só. 
       Como se vê o conteúdo da peça é bastante interessante e oportuno para o momento brasileiro; quanto à forma o diretor Tom Ravazoli optou por algo divertido de se ver, bem apropriado para a necessária rápida absorção do público de rua, mas sem abdicar da denúncia social e do amargo final da história. As confusões dos filhos Pedrinho e Rosinha, assim como, as peripécias de Ditinho para falar com os santos rendem boas gargalhadas e fui testemunha do riso aberto de gente simples que assistia à encenação. Outro ponto importante foi o grau de retenção do espetáculo: muita gente chegou após o início, mas pouquíssimos foram embora antes do término.
       Várias pessoas se manifestaram durante a apresentação, entre elas uma senhora simples conclamando a saída do prefeito Kassab e um rapaz (que acabou fazendo um longo discurso após o término da peça) que “cantou” uma espécie de lamento durante o monólogo final de Ditinho. Esses são exemplos contundentes da comunicação do espetáculo com o público a que ele se destina. A encenação estimula essa participação no momento em que coloca os atores no meio do público para questionar as atitudes de Ditinho.
         Por último, mas não menos importante, o trabalho do elenco. Rodrigo Zanetti dá um verdadeiro show na pele do Ditinho e praticamente não sai de cena durante todo o espetáculo: matreiro, ingênuo, humano, solidário, mas também oportunista, Rodrigo consegue mostrar todas essas facetas da personagem de maneira muito apropriada. João Mendes tem um timing excelente de comédia e faz um adorável Pedrinho, o mesmo podendo se dizer de Isabella Felipe como a brejeira Rosinha, que tem um momento delicioso vendendo doces para o público. Stefany Cristiny, que substituiu Carol Campos na apresentação em São Paulo, não parece uma substituta, pois domina muito bem o papel da mãe e de Mariazinha, a menina que vem pedir ao santo para não ir mais à escola. Finalmente, Flavio Melo se encarrega de vários papeis além de tocar alguns instrumentos, seu maior destaque aparece na pele do corrupto deputado. Em resumo, um elenco afiado que soube dar vida ao texto e que demonstra uma evolução bastante apreciável.  Como espectador e amante de teatro, sinto-me feliz e estimulado ao ver o progresso do simpático grupo de Sorocaba. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PARA DANIELA CAMPOS

A MORTE DE MANÉ BUFÃO
Foto: Sérgio Henrique


Paulo Leminsk         
"AI DAQUELES..." 
         ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
          aqueles que deixaram
que a mágoa nova
          virasse a chaga antiga

          ai daqueles que se amaram
sem saber que é amar é pão feito em casa
          e que a pedra só não voa
porque não quer
          não porque não tem asa


Obrigada Dani, pela bela composição para a Totonha.
A CiadeEros te deseja toda sorte em novas criações... 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A MORTE DE MANÉ BUFÃO

"Considerando o rosto como espelho da alma, sede privilegiada da expressão humana, a máscara, nesse sentido, é um meio de identificação da personalidade, que revela as características interiores." (Amleto Sartori)

Se o teatro contemporâneo afirma cada vez mais a autonomia criativa do ator e a exploração de novos espaços cênicos, então, essas metas começam a ser perseguidas pela coordenação do trabalho da CiadeEros.
Encontramos na comédia italiana uma fonte prazerosa de estudos e prática. Recorremos ao uso de máscaras do tipo usado na commedia dell'arte (gênero iniciado no século XVI na Itália), para aprimorar o jogo corporal e vocal e ampliar a capacidade de improvisação dos integrantes da cia.
Com os auxílios luxuosos de Daniela Oncala que dividiu seus conhecimentos na confecção das máscaras e de Lélis Andrade que trabalhou com o grupo na preparação corporal e divide comigo a direção, o novo trabalho da CiadeEros fará sua estreia amanhã (11) no II Festival de Teatro Estudantil Vasco Barioni, que tem a coordenação de Amanda Sobral.
O grupo utiliza como texto base A Morte do Mané Bufão, de domínio público, baseado no Auto do Tranca Ruas de Tarso de Castro, que por sua vez, baseia-se no teatro do mamulengo (teatro de bonecos do Pernambuco).
Portanto, a aproximação com as máscaras italianas que fixa tipos, que é universal, junta-se nessa montagem ao que é provinciano, no sentido de termos trazido para o ambiente caipira uma tradição da cultura nordestina, ou seja, busca-se um resultado inteiramente brasileiro.
Resumindo: o que se procura, além de um crescimento artístico e pessoal para os integrantes da cia é também uma experiência de apresentação em espaços dos mais variados, desde o tradicional palco à italiana (do qual carece a cidade de São Roque) até os espaços alternativos (do qual é pródiga a cidade de São Roque).
Com esse trabalho, pretendemos abrir mais um espaço de apresentações na Brasital: uma praça linda atrás da Biblioteca, a qual apelidei de "Praça do Saci", já que tem lá um mosaico lindo dessa figura extraordinária da nossa cultura.
Mané que dá nome ao espetáculo é o tipo preguiçoso, dono de fantástica prodigalidade na invenção de desculpas para não trabalhar.
Totonha, mulher de Mané, tão esperta quanto ele, se verá frente a frente com a Morte e colocará em xeque o destino do marido e decidirá o curso dessa estória.
Sendo a máscara, a principal atenção da pesquisa do grupo, são elas determinantes para toda a movimentação cênica, dadas a partir das máscaras de: Arlequim, Briguela, Capitão, Pantaleão e Ragonda .
É uma mistura complicada de se entender?..
Então, assistam a Morte de Mané Bufão e a CiadeEros tentará explicar...Capice?  


Elenco:

MANÉ BUFÃO: Renan Martins
TOTONHA: Daniela Campos
ARLEQUIM: Beatriz Nascimento
BRIGUELA: Rodolpho Heinz/Lélis Andrade
CAPITÃO: Ana Claudia Oliveira
PANTALEÃO: Itamar Spira
RAGONDA: Dayane Canavezi


APOIO: DIVISÃO DE CULTURA DA ESTÂNCIA TURÍSTICA DE SÃO ROQUE



Agenda:
Dia 11/11/2011 = Emef Barão de Piratininga às 20 horas
Dia 13/11/2011 = "Praça do Saci" na Brasital às 18 horas











domingo, 30 de outubro de 2011

SENSO TEATRAL COM DOUGLAS EMILIO


SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado agora é Douglas Emilio, integrante do Grupo Katharsis, Companhia de Solistas e Coletivo Nonada.


  Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Na verdade surgiu a princípio pela dança, mas não sei dizer ao certo o que faz um garoto de 9 anos se interessar por Ballet Clássico, em todo caso me envolvi, depois de um certo tempo tive a necessidade de experimentar e me expressar de outras formas. Foi aos 13 anos que entrei para fazer teatro, mas o amor pelo teatro aconteceu aos poucos, é como estar com alguém, primeiro você conhece, experimenta bastante, apresenta aos pais e aos amigos, quando acontece uma crise (por alguma razão), você precisa escolher se separar ou não, é  exatamente nesse momento que o amor te toma por completo, percebe que não irá conseguir viver mais longe. (risos)
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Sim! Foi “Pluft o fantasminha” de Maria Clara Machado. Nossa! Ninguém nunca me fez essa pergunta, fiquei até em duvida por um tempo. Pode ter sido o “Avarento” de Molière, uma das duas.
 Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Muitos, mas significantemente “Café Müller” de Pina Bausch, assistia em vídeo, nem sei quantas vezes eu assisti e nem sei quantas vezes ainda continuarei, é um espetáculo poderoso (mesmo em vídeo), quando assisti ao vivo foi uma experiência indescritível.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Como ator e bailarino, tudo que encenei, dancei sempre me modificaram bastante, na verdade se a obra não muda o próprio ator não muda ninguém, não é? Como espectador, todos de Pina Bausch, Cena 11, Grupo Corpo, Quasar, Le Ballet C de lá B, Théâtre du Soleil, Peter Brook, Bob Wilson, Grupo XIX, Grupo Espanca, Antunes Filho, Zé Celso, Galpão, DV8... Obviamente todos sabem que são incríveis... Deixa eu pensar em alguns grupos e diretores menos conhecidos e que foram importantíssimos, “Interior” do Grupo Tusp, “Agreste” dirigido pelo Márcio Aurélio, “Primus” da Boa Companhia, “Aldeotas” dirigido por Cristiane Paoli Quito,  acho que também são famosos (risos). Tentando rememorar, acho que foi - sobre todos esses - o “Interior”, estava na adolescência e me ajudou bastante com algumas questões, me lembro que estava lotado o teatro do SESI de Sorocaba, estávamos Eu, Robson Catalunha e Luiz Perino sentados na escada (apertados), morrendo de rir e em outros momentos soluçando de tanto chorar.
Você teve algum padrinho no teatro?
Olha! Tive tanta sorte nessa minha jornada, passei por diretores e professores incríveis que sempre me deram bons conselhos, me apontaram coisas e pessoas importantes, me alertaram de questões que eu ainda nem compreendia, me mostraram caminhos, tiveram paciência, me deram força quando eu mais precisei, seguraram com firmeza as minhas crises de rebeldia, meu ego, minha arrogância, minha falta de grana, minhas desilusões... Depois de um tempo a gente percebe a importância de cada um deles, desde Silvia Nogueira (primeira professora de Ballet Clássico – 1995), até Roberto Gill e Raquel Ornelas (diretores com quem eu trabalho atualmente no Grupo Katharsis e Companhia de Solistas – 2011).
Já saiu no meio de um espetáculo?
Nunca sai, mas já dormi bastante... Atualmente, mesmo não gostando faço de tudo para continuar conectado, sei o que é estar no palco e principalmente sei que a coisa mais importante da minha vida é meu tempo, por isso tenho muito respeito com o tempo em que o artista esta se dedicando para apresentar a obra, sendo ela da qualidade que for.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“SkinnerBox” do Grupo Cena 11, é um espetáculo de dança contemporânea, mais do que o espetáculo é um grupo muito incrível, apresenta um projeto de pesquisa muito avançado em comportamento, condicionamento, composição estética, construção coreográfica que explora as correlações conceituais entre corpo, dança e tecnologia, é difícil dizer sobre o Grupo Cena 11, como é um projeto de pesquisa, eles avançam nas experimentações com grande velocidade, apresentando e ampliando novas esferas da pesquisa, construindo os espetáculos em formatos diferenciados e inéditos.

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim! Coisa boa não é só para uma só vez. Sou muito assim, experimento mudar muito, fazer de outras formas, mas também ouço muito uma mesma música, vejo muitas vezes o mesmo filme, vou atrás muitas vezes do mesmo espetáculo, leio o  mesmo livro, tomo sorvete do mesmo sabor, uso o mesmo jeans (do corpo para a lavanderia, da lavanderia para o corpo), nem da tempo de chegar na gaveta, tenho muitas camisetas iguais, pretas sem estampa da Hering. Risos. Gosto e vou muito assistir ao mesmo espetáculo mais de uma vez.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Nossa! Que difícil... Brasileiro acho que Luiz Alberto de Abreu, Ariano Suassuna, João Falcão... Muitos... Estrangeiros, são muitos também, mas é indiscutível a importância de Shakespeare na minha vida.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Eu tenho uma tendência de gostar e ir atrás, por esse motivo entrei no Grupo Katharsis, é a companhia que eu mais admiro.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Eu gosto de teatro bom (risos).
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Temos o costume de separar as coisas para que didaticamente seja mais fácil de compreender, mas as coisas não são separadas, diretor não faz milagre, ator não faz milagre, no teatro não existe milagres, só trabalho/ técnica, estudo/ prazer e disciplina/ paixão. Conjunta.
Cite um cenário surpreendente.
Espetáculo “Ten Chi” - Pina Bausch
Cite uma iluminação surpreendente.
Espetáculo “Quartett” - Robert Wilson
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Denise Stoklos
O que não é teatro?
Terapia.
A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Olha! A pergunta é, tudo é válido na arte? Acredito que quando uma coisa designa muitas outras coisas, ela não designa mais nada, tudo é muita coisa a ser nomeada ou determinada.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
O mesmo. Continuar caminhando junto, nunca estiveram um longe do outro; uma cadeira é uma tecnologia para descanso, se pensarmos sobre isso sempre perceberemos que a evolução é conjunta, mesmo que pensemos em ações grandiosas com a tecnologia, ela nunca assustou o teatro, pelo contrário, vide Deus ex machina origem do teatro grego, máquina de fumaça que nos anos 80 foi uma febre, projeções em telões, em figurinos, encenações por webcan, o próprio teatro é uma tecnologia, esses avanços existem por necessidade, sempre brinco que o cinema 3D está se tornando teatro, a imagem está cada vez mais perto que logo estaremos dentro do filme e quando isso acontecer já terá um nome: teatro. (risos)
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
A lista seria gigante, mas vou pensar como se eu tivesse apenas uma mala, então eu facilitaria com um livro completo de Anatomia Humana, História da Arte, “Primeiras Estórias” Guimarães Rosa, “Pequeno Príncipe” Antoine de Saint-Exupéry, “Para Alice com amor” José Pacheco (tudo que acredito sobre educação esta contido nesse livro), um livro de poemas de Mario Quintana e outro de contos de Caio Fernando de Abreu.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Ariane Mnouchkine, Shakespeare e Meryl Streep.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O pior espaço é aquele em que o espetáculo e a encenação não se compactuam. Não existe pior ou melhor, existe proposta estética.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Hum! Isabelle Huppert caminhando lentamente até o fundo do palco (imenso), dizendo seu texto como se estivesse desistido da vida, desistido do amor, enquanto um aquário lentamente entra em cena deslizando pela lateral com dois peixinhos, numa iluminação e numa sonoplastia monstruosamente incrível.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Por que continuamos a fazer e discutir teatro?  Porque a ideia é a coisa mais poderosa do mundo, comunicar uma ideia é ter a chance de mudança, propor uma ideia é saber que em alguma instância ela irá reverberar no espectador, todo teatro é político, tem o poder de comunicabilidade, uma forma poderosa de  propor  assuntos de interesse coletivos ou de pequenos grupos, dando a chance de ganhar visibilidade e construir conhecimento para o bem comum de todos.
Por que você faz teatro na região?
Porque é onde moro, não faz sentido algum só propor mudanças para pessoas que eu nem conheço, comunidades que eu não tenho  vínculo, cidades nas quais não existe aproximação com a realidade em que vivo. Obviamente que expandir as fronteiras do trabalho é de extrema importância e também saudável, mas achar que encontrará algo diferenciado ou é melhor fazer teatro ali em vez de aqui é pura alienação, não tem nenhum sentido eu me propor fazer um espetáculo para pessoas que moram ou frequentam por exemplo a praça Roosevelt,  qual a minha aproximação? Arte para quê? É preciso sempre se perguntar sobre isso, o que você quer atingir? Tem grupos que querem o estrelato em vez de propor pequenas mudanças poéticas na vida das pessoas.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Olha! Para falar a verdade eu conheço pouco a realidade dos grupos aqui de Sorocaba e região, não tenho propriedade para falar, mas sabemos da dificuldade de ter um grupo sem apadrinhamento, o Grupo Katharsis tem a UNISO ajudando nas despesas de espaço e pagamento do excelente diretor Roberto Gill Camargo, a Companhia Clássica tem o Mario Pérsico que é integrante do corpo docente da FUNDEC, Companhia Camarim ensaia no espaço próprio do Hamilton Sbrana onde também funciona uma escola de teatro, mas existem grupos que sobrevivem pagando seu próprio aluguel, é o caso do Grupo Nativos Terra Rasgada dirigido pelo esforçadíssimo e trabalhador Flávio Mello, temos ainda a Trupe Koskovisky que inaugurou um espaço (muito bacana), no qual ministra oficinas e apresentações de espetáculos teatrais, temos a ETAC (Escola Técnica de Arte e Comunicação), dirigida pelo comprometido e amável Tom Barros, no qual são formados muitos alunos que estão “disputando” seu lugar ao sol, propondo formação de grupos e já se apresentam pela cidade, Coletivo Cê que realiza um trabalho primoroso, mas que esta sem sede fixa (agora batalham um espaço em Votorantim), Coletivo Nonada que fez estréia do primeiro espetáculo, vem com um projeto artístico e engajamento político bem forte do qual eu sou integrante, acho que os outros grupos (me desculpem se esqueci de alguém ou se estiver equivocado), estão ainda “flutuando”, atrás de oportunidades de espaços para se firmarem e conseguirem estudar, pesquisar, trabalhar no que se propõem.
http://www.spescoladeteatro.org.br/


Douglas Emilio em cena de Astros, Patas e Bananas
Grupo Katharsis 




quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PUERIL

“Na verdade, simplesmente os alerto e estimulo a descobrirem coisas que lhe permitem fazer um teatro com sensibilidade, porque o teatro que está sendo feito por aí é um teatro sem sensibilidade, feito na base do muque, da projeção do ego, que é o peito, é a garganta...”
Antunes Filho 
Foto: Mirna Módolo

De Stanislaviski à Antunes Filho, passando por centenas de outros teóricos do teatro, a busca pela verdade do ator em cena é uma constante.
Creio que essa busca também seja constante para atores do tipo Daiana Coelho e Douglas Emílio que eu conheço um pouco mais na cena e na vida, estendível a Fabiana Souza e Robson Roso, que começo a conhecer um pouco mais da vida e da cena. 
Em tempos em que até o sentido de verdade tem sido relativizado,  tenho a opção de entender verdade como aquilo que me afeta como diretora e público de teatro.  
Minhas desculpas antecipadas, por escrever agora sobre coisas que vão ser compreendidas apenas por quem assistiu ou assistirá Pueril...
Vou me ater apenas a dois instantes do espetáculo protagonizados por Douglas Emílio: a cabeça do tatu e a espera. 
Não estou falando sobre a cena em si, mas de momentos fugidios de algo que me atravessou (pedindo emprestado de um termo usado pelo Rodrigo Scarpeli).  
Impermanência...o corpo construído/desconstruído, o gesto feito/desfeito, a pulsação, o lampejo de um sentimento, sei lá...Enfim, impermanência é a palavra que traduz pra mim esses instantes em que o ator consegue afetar o coração do espectador. Mas se não permanece, por que afeta? 
Talvez por que essa tal verdade que se busca tanto nessa arte  seja mesmo rara, usando de uma imagem, talvez, essa verdade seja uma flecha e o ator tenha que ser um exímio atirador para acertar sempre o alvo. 
Bem, Pueril pra mim gira em torno da impermanência da vida e da própria arte teatral. E o que mais me saltou os olhos, de forma geral, é que ali existem atores e atrizes que fazem teatro com sensibilidade.
Com vários objetos e sons simples, criam imagens maravilhosas e acompanha-se a obra com interesse.
Por isto e por aquilo, muito obrigada ao Coletivo Nonada.
Foto Mirna Módolo


sábado, 8 de outubro de 2011

CAFÉ COM QUEIJO

LUME (Núcleo de Pesquisas Teatrais Unicamp) 
"Que o teatro nos transforme." (Dedicatória de  Renato Ferracini para mim.)
Eu tenho alguns ídolos no teatro, melhor dizendo, tenho referências que norteiam minha forma de "viver teatro" e o LUME de Campinas é uma delas.
Bebo da fonte do Lume há muito tempo (o grupo foi criado em 1985), através de livros, dissertações e vídeos. 
Então, imaginem o prazer que eu senti ontem em Sorocaba, em estar tão perto de Ana Cristina Colla, Jesser de Souza, Raquel Scotti Hirson e Renato Ferracini e depois poder abraçá-los e declarar toda minha admiração por eles. Foi lindo!
Pausa para um copia e cola (eticamente, citando a fonte que é do site do grupo): Sobre Café com queijo:



Conversas e histórias, entremeadas por canções e versos, compartilham com o público vozes e vidas resgatadas da clandestinidade em suas andanças pelo interior do Brasil.
No aconchego de uma colcha de retalhos, fala-se um pouco de tudo: de curas para males de saúde e do coração, das artes da conquista, de comida, festa, morte, trabalho, solidão, aculturação.Neste espetáculo delicado, tudo tem cheiro e sabor, e não apenas de café com queijo ralado - bebida típica oferecida aos atores no interior de ocantins.Criado em 1999, o espetáculo já se apresentou em diversas cidades do Brasil, tendo participado dos principais festivais nacionais de teatro e apresentado nas cidades de Lisboa, Évora e Santo André, em Portugal.  


Eu chorei tanto durante o espetáculo, por que a voz e os corpos daqueles quatro atores fabulosos afetam os corpos e as vozes de cada pessoa que está ali assistindo.
Eu chorei, porque ouvi vozes e senti corpos de meus antepassados, de uma família mais antiga e de uma mais recente. 
Eu chorei (e ri!) porque é impossível sair igual ao ter entrado, dentro daquela sala do Café com queijo...
Eu só posso concluir que escolhi o lugar certo para viver os últimos anos do resto de minha vida: o teatro.









segunda-feira, 12 de setembro de 2011

10 INDICAÇÕES E 6 PRÊMIOS PARA SÃO ROQUE


12/09/2011
Cia de Eros e a Arte Retribuída 


É surpreendente como a arte tem o poder de mudar, modificar a  vida, manifestando a nossa cultura e despertando os sentimentos mais variados.
Entre tantas manifestações artísticas da nossa cidade, o teatro vive um momento de grande expressão que merece um olhar especial de todos nós, cidadãos e do poder público.
O Grupo de teatro CIAdeEROS originado de uma oficina de teatro da Divisão de Cultura da nossa cidade, recentemente participou do FESTIVAL LIVRE DE TEATRO DE SOROCABA (FLITS), Mostra organizada pela Associação Teatral Sorocabana (ATS)  e recebeu  elogios da crítica.
Esta semana a CIAdeEROS participou do 10° FESTIVAL DE TEATRO ESTUDANTIL SESI SOROCABA, representou São Roque e fez bonito mais uma vez, recebeu  ótimas críticas do júri popular, do júri técnico e foi a grande vencedora do festival , a arte foi retribuída,  recebendo os prêmios  de Melhor Espetáculo Júri Popular, Melhor Espetáculo Júri Técnico, Ator coadjuvante  Rodolfho Heinz,  Atriz coadjuvante Daniela Campos, Figurino Marco Lessa, Maquiagem Gabriele Pinho, além das indicações  de Melhor Sonoplastia: Matheus Pezzotta, Melhor Atriz Gabriele Pinho, Ator Revelação Renan Martins e Melhor Direção Lisa Camargo.
É importante lembrar que a CIAdeEROS apesar de apresentar um trabalho maduro, competente e porque não dizer profissional, é formada por uma bela safra de jovens talentos  (14 a 21 anos de idade)  dirigidos pela competentíssima diretora  Lisa Camargo e   ensaiam numa pequena sala nas dependências da Brasital, cedida pelo Rodrigo Boccato, Chefe de Divisão de Cultura.
No final deste ano, este grupo provavelmente irá se desfazer...
Alguns vão continuar no caminho das Artes procurando  a graduação em cursos de Artes Cênicas, Música, Artes Plásticas, enfim,  talvez não voltem mais para nossa cidade e procurem lugares onde encontrem mais oportunidades de trabalho.
As perguntas que ficam são as seguintes:
Quando teremos um olhar especial do Poder Público para a Arte e a Cultura na nossa cidade?
Quando teremos um espaço,  uma casa de espetáculos, digna das nossas produções artísticas com suas especificações técnicas,  que possa receber produções locais e de fora?
Quando teremos uma Orquestra Sinfônica, um Balé da Cidade, Coral Municipal,  Companhias de Teatro com artistas concursados e remunerados?                 

Quando teremos um Teatro Municipal? 

São Roque merece!

Parabéns CiadeEros pelo amor e dedicação à Arte e à Cultura da nossa cidade! 

EdsonD’aísa.
(Músico, compositor e cidadão sãoroquense)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CRÍTICA DE "ERA UMA VEZ..." NO 7° FESTIVAL LIVRE DE TEATRO DE SOROCABA

Era uma Vez
Cia de Eros
Direção Lisa Camargo



Quando Bertolt Brecht (o grande encenador, dramaturgo e militante marxista) sistematizou o que chamou de teatro dialético, ele pensava em se utilizar de expedientes teatrais para expor as contradições do mundo capitalista. Evidentemente que esse grande artista revolucionário tinha em mente a construção de uma sociedade socialista, democrática e plena do bem viver. Se essa sociedade socialista ainda não se construiu, os ensinamentos do teatrólogo alemão deram frutos e se espalhou pelo mundo. E chegou muito bem na cidade de São Roque, conhecida por seus ótimos vinhos e que também deveria ser lembrada pela qualidade do trabalho da Cia de Eros: um grupo de jovens artistas, dirigido por Lisa Camargo, e que no espetáculo Era Uma Vez se destaca pelo excelente trabalho de interpretação, pela bem resolvida trilha musical, os figurinos e demais elementos de cena.

Se for possível definir assim, Era uma Vez tem um roteiro épico mais clássico do que ousado, que avança num ritmo lento, que em algumas vezes chega a incomodar, mas o teatro épico não é um teatro para o conforto. É um espetáculo maduro, apesar da juventude de seu elenco, e muito politizado, como se espera de um texto épico/dialético, sem perder de vista o apurado senso artístico.

Para além do espetáculo uma observação se faz necessária, mas que em nada encarece o espetáculo: embora seu jovem elenco esteja artisticamente maduro, e embora os jovens tenham grande motivação política, a sua formação nesta área é muito incipiente, precisa ser mais depurada em sala de ensaios para que possam falar dela com mais propriedade. Fora esse detalhe, é um espetáculo que deve ser assistido por quem gosta de arte e por quem gosta de política, enfim, por quem gosta de pensar e discutir o mundo.


LUIZ CHECCIA
Historiador, Ator e Diretor


Foto: Jennifer Nascimento


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SENSO TEATRAL COM GIOVANI HUGGLER

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado agora é Giovani Huggler, amigo de longa data e responsável por uma grande parte da história do teatro em Mairinque dos anos 90 pra cá. Giovani, é professor na rede estadual e dirige o THEATRON-MK, grupo de teatro que completou neste ano 13 anos de existência.
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Desde criança sempre tive fascinação pelo ato de representar, de ser um “outro”, recriar a realidade; seja no teatro, na televisão ou no circo. Eu e meus amigos brincávamos de encenar em cima de uma cama velha, que era o nosso palco. Minha mãe me educou para ser padre, mas aos nove anos fui num circo pela primeira vez e saí de lá convicto de que seria trapezista. ( rsrsrs )
Lembra da primeira peça a que assistiu?
A primeira “peça” que me lembro foi “Romeu e Julieta” de Gabriel Vilela com o Grupo Galpão em Sorocaba.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
O “Macbeth” gótico de José Henrique de Paula do Grupo Dramático Alternativo de Sorocaba em 1990, do qual tive a honra de participar como ator, pois ela me ensinou que podemos ousar, experimentar, enfim, que a arte é livre.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Depois que conheci o Cirque du Soleil passei a perceber e valorizar mais a estética num espetáculo. Alegria...
Você teve algum padrinho no teatro?
Considero meu primeiro diretor Roberto Samuel Sanches como modelo de pessoa e encenador.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Não, nunca. Já fui ver teatro profissional que me deu vontade de sair, mas resisti. Amador então...
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Qualquer um dos Parlapatões. Gosto da linguagem.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Muitos. O último foi o musical “Hairspray” do Falabela.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E
estrangeiro?
Temos bons dramaturgos como o Suassuna, o Plínio Marcos e o Nelson Rodrigues, mas não me identifico com o trabalho de nenhum deles. Gosto de Shakespeare e Molière.
Qual companhia brasileira você mais admira?
           Patifes, Paspalhos e Parlapatões.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Tragicomédias são as melhores.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existem os dois casos, que podem estar juntos ou separados. Quando estão juntos vira uma catástrofe.
Cite um cenário surpreendente.
Avenida Dropsie cenário de Daniela Thomas. Inesquecível.
Cite uma iluminação surpreendente.
“Dois Poemas, Um Pessoa” de Antonio Victório.
 Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Pode ser dois? Alexandre Gilioli (Theatron) em Estação Mairynk em 2006 e Nogueira Junior (Theatron) em “Cala a boca, Etelvina” em 2010.
O que não é teatro?
O que não é estudado, planejado. O que não tem propósito ou não é feito para o público.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
A liberdade de expressão cabe eheatronm qualquer arte. O Teatro tem sido um rico campo de experimentação, porém o bom senso deve ser o norteador para quem gosta de se aventurar. Se colocar no lugar da plateia é um bom exercício.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
Aos poucos, a tecnologia vai tomando espaços.  Acredito que para não perder espaço vai haver um casamento da arte do teatro com a tecnologia. Já vi algumas tentativas. Algumas coisas são boas, mas outras são de mau gosto, frias. Prefiro a coisa mais crua, mais rudimentar, tem mais sabor ...
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
As peças que eu já montei. Sempre bate uma saudadezinha e gosto de reler e analisar as coisas que escrevi ou adaptei. Jogos Teatrais da Viola Spolin adaptados pela Ingrid Koudela.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Gosto de gente humilde, esses “pavões” que estão na mídia são um desserviço para a classe, querem ser papas, não respeitam o ator. Tem uma geração nova surgindo que está mudando esse quadro. Gosto do trabalho do Flávio Melo do Nativos Terra Rasgada.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O melhor sem dúvida são os teatros Alpha e Bradesco em São Paulo o pior é a sala de espetáculos Giovani Huggler (... mas é o que tem prá hoje! ). rsrsrs
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Dom Casmurro em 2003. Dona Helena em cena solo como namorada de Bento, sozinha no palco numa cadeira de balanço e a voz em off rolando. ( realização para a vida toda! )
O teatro é uma ação política? Por quê?
Sim, sem dúvida. A arte tem entre suas funções, uma que é muito importante: a formação de opinião. E como muitas coisas são atemporais; vejo, reflito, concluo e ajo.
Por que você faz teatro na região?
Porque eu moro aqui em Mairinque e quero contribuir para o crescimento do Teatro em nossa cidade. Mesmo com todas as deficiências tenho o papel de formador de público e de profissionais.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
É preciso ter a consciência que juntos seremos fortes e que só assim construiremos algo sólido para nossa cidade. Fazer a lei de incentivo FUCARTE funcionar em Mairinque será um importante avanço para a classe artística. Termos espaços apropriados para desenvolver arte e incentivar nossas crianças a “fazer arte” será um bom começo.


Giovani Huggler em cena de "Auto da Compadecida"
Foto: Mi Taraborelli