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domingo, 26 de junho de 2011

MAPA CULTURAL PAULISTA - FASE MUNICIPAL ALUMÍNIO

Estou tentando entender o que aconteceu na noite de ontem na cidade de Alumínio, quando um júri de uma soberba impressionante determinou que não recomenda a peça "O Príncipe Feliz" do grupo Sacra Mistura para representar a cidade na fase regional do Mapa.
Se o Mapa Cultural Paulista tem como proposta promover o intercâmbio regional e o mapeamento dos produtores de cultura e de suas atividades no Estado. Se pretende criar uma grande vitrine cultural com o propósito de identificar, ressaltar e divulgar os produtos culturais das diversas regiões do interior paulista, então quais critérios foram usados para apagar com uma borracha o trabalho e a história de pessoas que estavam lá para apresentar a sua arte à comunidade?   
Minha indignação está por conta ainda da forma como as coisas foram conduzidas pelos representantes da cultura local.
Primeiro, para esclarecer: o regulamento pede que o evento deve contar com 3 jurados, de reconhecido saber na respectiva área. Na minha opinião, para provar que o júri tinha essa qualificação, dois apresentadores revezaram-se para ler umas duas páginas do currículo de cada um dos jurados. Até aí, tudo bem...
Após o término da peça, o júri saiu da sala para "deliberar", enquanto ficamos, plateia e elenco "deliberando" sobre o trabalho. Passados uns 20 minutos mais ou menos, entra um representante da cultura local com o veredicto: o "júri soberano" não recomenda o trabalho para a próxima fase. Entrega a avaliação dos jurados para o Antonio Victório (Diretor), que começa a ler pra gente um parecer pífio e sem assinaturas. E onde estavam os jurados? Tinham ido embora...Hã????
A questão que coloquei naquele momento foi: com uma "ficha corrida" daquelas, poderiam pelo menos, dar um parecer mais coerente ou pelo menos ficar ali, para  dar dicas ao grupo que "não sabe nada de teatro".
É muita falta de noção, é muita falta de respeito, é muita falta de educação... 
Estamos tratando de arte, meu Dionísio!!!
Ok.Também vi defeitos na peça, também não gostei de algumas coisas, também acho que o trabalho tem que amadurecer (e haveria tempo pra isso, já que pelo menos dois meses separam a próxima fase) e também a p.q.p...
Agora, jogar no lixo, Oscar Wilde, artes plásticas, música composta, trabalho de atores, de músico, de direção (lembrando que eram os únicos representantes do teatro e que a maioria de todo o trabalho foi feito por profissionais das suas respectivas áreas) é comprovar que Alumínio não deve  mesmo ser representada pelo grupo Sacra Mistura no Mapa Cultural Paulista.
A arte deles merece ficar acima disso... 



domingo, 19 de junho de 2011

SENSO TEATRAL COM CAROLINA VILLAÇA

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
A convidada agora é a atriz Carolina Villaça, uma recente querida amiga.Carol desenvolve um trabalho em teatro com um grupo de Deficientes Visuais pela Divisão de Cultura de São Roque.

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Minha família, por parte de pai, sempre foi ligada ao teatro. Desde pequena eu me lembro de “brincar de teatro”, de montar peças caseiras e participar um pouco de algumas produções da minha tia Graça Villaça aqui em São Roque. Quando eu fiz aulas com o Humberto Gomes, ele me perguntou “O que te dá frio na barriga?” e desde aquele momento eu me conscientizei que estar envolvida com teatro é o que sempre me deu “frio na barriga”. E que o teatro sempre fará parte de mim seja da maneira que for.
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Eu me lembro de flashs de um espetáculo dirigido por minha tia Graça. Creio que se chama o “Fantasminha Pluft”. O que mais me recordo é a voz da minha outra tia Cláudia Villaça dizendo “Pluft! Pluft! Venha comer os seus pasteizinhos de vento Pluft!”. É muito bom lembrar disso...!
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Quando eu estava no primeiro ano de Artes Cênicas na UEL, assisti o teatro de rua chamado “A Saga de Canudos”, do grupo Oi Noiz Aqui Traveiz. Esse grupo me emocionou por conseguir harmonizar vários elementos na cena e ainda, valorizar a história que estavam contando. Fora a paixão dos atores que quando chegavam perto de mim: eu estremecia! Nesse dia, eu me apaixonei por teatro de rua!
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Fazer faculdade em Londrina – PR, me trouxe a oportunidade de assistir vários espetáculos pelo FILO (Festival Internacional de Teatro). Não me lembro bem o ano, mas o grupo russo Derevo se apresentou com o espetáculo Ketzal. Deve ter sido no primeiro ou segundo ano do Curso, porque lembro que eu não conseguia assimilar todos os signos que estavam em cena. Mas eu jamais me senti como quando vi aquele espetáculo. Quando eu e meus amigos saímos do teatro tínhamos certeza que algo tinha mudado dentro da gente, mas não conseguíamos por em palavras. Creio que até hoje eu não consiga de tão forte que foi aquela experiência!!!
Você teve algum padrinho no teatro?
O primeiro nome que eu tenho que citar é da Dani Oncala. Foi ela que me apresentou o teatro na Brasital, a UEL e que até hoje me abre caminhos. Sou enormemente grata por ela ter me mostrado tantas oportunidades e ainda me mostrar.
Dentro da faculdade minha madrinha é a Ceres Vittori. Que nunca desistiu de mim e que eu tenho como modelo de vida mesmo.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Já!!! E posso dizer que foi um grande alívio!!!
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Poxa Vida, tem várioooos! Mas tem um, do grupo tcheco Farm in the Cave chamado “Sclavi” que eu gostaria mesmo. Porque esse espetáculo tem atores que, ao meu ver, são meu ideal. Tecnicamente perfeitos com suas vozes e corpos disponíveis para qualquer coisa. E além disso, se comunicavam de uma maneira primordiosa com o público! Dava pra sentir a energia deles de longe! Com certeza isso se deve ao intenso trabalho deles; portanto, eu gostaria de ter participado de toda a preparação e montagem.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim!! Muitos! Alguns dos espetáculos que participaram do FILO e que eu precisei ver de tão bom que eram. Mas a maioria que assisti diversas vezes eram os que meus colegas de faculdade foram atores. Aprendi muito com isso e ficava admirada com a atuação deles!
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Pergunta difícil essa. Devo confessar que conheço muito pouco de teatro brasileiro e que agora estou correndo atrás para saber mais. Um dramaturgo- diretor- ator que sou loucamente apaixonada é Dario Fo. Ele consegue sintetizar tudo o que acredito em teatro nas obras dele.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Não existe uma apenas. Gosto muito da proposta do grupo Oi Noiz Aqui Traveiz e da Cia. Latão.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
O que mais me fascina é teatro de rua com toda a certeza! Porque é um gênero que pode chegar a qualquer lugar, em qualquer pessoa e exige um trabalho do ator que supere seus limites!
Mas a minha verdadeira paixão é o que entendemos hoje por Commedia dell’Arte, apesar de que ninguém possa afirmar com certeza absoluta o que foi e o que é.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Creio que mais importante do que o que se queira comunicar, é o modo como se faz essa comunicação. Então, na minha visão, fico com a segunda opção!
Cite um cenário surpreendente.
O cenário de “L’Oratório d’Aurélia” era o espetáculo em si! Era um sonho materializado ali, na sua frente!
Cite uma iluminação surpreendente.
De “Ketzal” e “L’Oratório D’Aurélia”
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Um amigo meu de faculdade chamado Gustavo Garcia me surpreendeu demais. Em muitas de suas cenas, sua atuação sempre foi muito enérgica, “pilhada”. Mas no espetáculo de formatura, ele fez um mudo apaixonado pela lua. Me arrepia só de lembrar de ver que toda aquela energia estava focada no seu olhar pra lua e ele, parado!
O que não é teatro?
 O que não comunica, o que não chega, não toca o “outro”.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Talvez a linguagem mais aberta, ao meu ver, seja o teatro. Tudo o que é humano é válido nas artes!
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
Essa é uma questão que me intriga sempre e que nunca consigo uma resposta. Existe um paradoxo nessa questão de tecnologia: ao mesmo tempo em que ela conecta as pessoas, as relações estão se tornando cada vez mais superficiais. O teatro, tanto pra quem o faz quanto para quem o assiste, exige que haja contato humano. Eu prefiro e quero acreditar que o teatro é uma solução para esse distanciamento do homem consigo mesmo e com os outros...!
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
“Manual Mínimo do Ator” de Dario Fo; “Esperando Godot” de Samuel Becket; “Do Amor e Outros Demônios” de Gael Garcia Márquez.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Diretor: Heloisa Bauab
Autor: Dario Fo
Ator: Charlie Chaplin
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O melhor espaço pra mim é a rua! Porque é democrática, exige muito do ator e onde se tem mais sinceridade do público. Agora, sejamos sinceros: infelizmente na nossa região falta um espaço “tradicional” (leia-se palco italiano, com equipamento de luz, som, camarim, etc.) adequado e que esteja efetivamente disponível ao teatro!
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Estranhamente, todo palhaço que eu gosto me faz chorar. Deve ser porque meu sonho é ser palhaça e pra mim é uma linguagem extremamente difícil. Existe um espetáculo chamado “The Art of Dying” que sempre lembro. É uma história triste, de um palhaço que descobre que tem câncer de pulmão. Mas é linda! E mágica! É uma encenação muito importante pra mim!
O teatro é uma ação política? Por quê?
Quando eu decidi ser atriz foi porque eu acreditava que o teatro poderia mudar as pessoas. Ainda acredito nisso. Seja de forma direta ou indireta quem faz teatro mostra através da sua arte aquilo o que realmente acredita. Isso já é algo extremamente político pra mim!!!
Por que você faz teatro na região?
Tentei por um ano continuar com teatro na cidade em que me formei – Londrina. Como não consegui, voltei pra “casa”. Pra ser sincera não tinha muita esperança em encontrar muita ação teatral por aqui. Mas... ainda bem que eu estava errada!! Com o tempo percebi que o teatro está renascendo na nossa região. E o que me deixa mais contente é ver nos olhos das pessoas paixão pela busca do teatro. A academia me tornou muito cética e está sendo essencial eu voltar a ter contato com essa paixão. Não posso dizer que FAÇO teatro na região. Mas posso dizer que quero, e muito, fazer! Seria perfeito termos um festival de teatro no inverno em São Roque... quem sabe mais esse sonho não se torne realidade? Que Dionísio nos ouça!!  
Carol Villaça em "Movimento Mínimo"

http://www.spescoladeteatro.org.br/


  

quarta-feira, 15 de junho de 2011

AUTÔNOMOS E BOA COMPANHIA

Dani Oncala, Marco Lessa e Amanda Sobral

Mais um fim de semana vendo teatro e coisas muito boas e o melhor: muito perto da gente...
No sábado (11) em São Roque, assistimos "Pelas Ondas Brasileiras" com o trio Amanda Sobral, Dani Oncala e Marco Lessa.
Para mim, que já detenho um pouco da história do teatro (mais especificamente de Mairinque e São Roque), e, por isso Amanda me apelidou de "Nave Mãe", foi com muita expectativa que aguardei para vê-las em cena novamente (me refiro às duas meninas), pois a última vez que as vi foi em 2003, quando ainda adolescentes, já haviam descoberto o teatro ali mesmo na Brasital.
Nessa 'época' a coordenação do teatro estava nas mãos de Humberto Gomes, hoje morando em Curitiba e ainda vivendo dessa arte. Muita gente talentosa fazia teatro com Humberto e alguns como é o caso dessas duas e mais Luiz Esparrachiari, Letícia Leonardi e Carol Villaça profissionalizaram-se (acho que não esqueci de ninguém).
Naquela noite, então, me divertindo muito e admirada pela qualidade das atuações, aplaudi com muita alegria (às vezes a gente aplaude só por obrigação) e como sempre faço, quando gosto de algum trabalho, reverenciei silenciosamente Dionisio, pela agonia e êxtase, que o teatro nos dá. 



Boa Companhia

No domingo, no Teatro do Sesi em Sorocaba, vimos "Cartas do Paraíso", a segunda peça que assisto dessa realmente boa companhia de Campinas.
A Boa Companhia atua desde 1992, tendo como proposta a pesquisa da linguagem cênica a partir do trabalho do ator, com este intuito, vem norteando a sua atuação através da pesquisa, do intercâmbio e da férrea vontade de expandir os horizontes através da arte.  Em 1997, A Boa Companhia funda sua sede-teatro, o “Útero de Vênus”, na Vila Santa Isabel, com o objetivo de pesquisar, criar e disseminar arte, tornando-se, a partir de 2007, Ponto de Cultura, junto à Companhia Sarau.
Confesso ter gostado mais de "Primus", o primeiro trabalho que assisti deles, baseado num conto de Franz Kafka.Contava a história de um macaco que para garantir seu lugar ao sol, aprende a ser homem e torna-se um pop star do show business.
Acredito que por ter sido uma encenação que se insere no que tem sido chamado de teatro físico,  fortemente centrada no trabalho corporal, que eu particularmente aprecio, e, também por uma percussão ao vivo impressionante, é que fiquei muito impactada. 
Quero destacar dois atores do elenco do Boa Companhia, Alexandre Caetano e Moacir Ferraz, que são também, professores na Ceunsp em Salto. 
Para uma nova geração que vai dar continuidade a agonia e êxtase que o teatro nos dá, estarão em excelente companhia se escolherem essa faculdade para cursar Artes Cênicas. 


 (http://www.boacompanhia.art.br/)






sexta-feira, 10 de junho de 2011

SENSO TEATRAL COM LUIZ ESPARRACHIARI


SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado agora é Luiz Esparrachiari, integrante do Grupo Katharsis de Sorocaba.
  
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
     De modo inesperado, ou melhor, fazendo teatro. Talvez simplesmente por fazer e, num certo momento, não fazer despertou um sentimento de ausência. É uma explicação mais sensível e menos mágica. Amar o teatro, para mim, é uma relação passional com todas as atividades teatrais que pude fazer e de como a partir delas eu compreendo o mundo.
Lembra da primeira peça a que assistiu?
     Sim, um pouco vagamente, sem nome, nem detalhes muito artísticos, mas prefiro dizer que lembro, só para dizer para mim mesmo que estou exercitando a memória. A peça, vulgo “teatro escola”, foi apresentada no Cine Teatro São José, em São Roque, em meados de 1992 e pelo que me lembro, tinha um bichinho da maçã. Era uma maçã gigante e o bichinho saia dela. Faz muito tempo...
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
     Nossa, que difícil responder essa pergunta. No momento eu diria que Café Müller, criação da Tanztheater Wuppertal Pina Baush, me tirou do lugar. O gostoso é sempre encontrar espetáculos que nos tiram do lugar. Eu sempre assisto os espetáculos do Antunes Filho dotados de um apelo técnico impecável.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
     Ainda mais difícil que a pergunta anterior. Na faculdade os professores sempre citam espetáculos de algumas décadas atrás, falam da sua importância histórica para o teatro e o Brasil, além de suas inovações na linguagem cênica,  e quase sempre me senti na sombra do passado. A verdade, é que eu não devia entender esses espetáculos como sombras do que faço, e sim, eu tenho que conhecê-los para ter consciência do contexto teatral que vivo, tal como quando estudava história geral no ensino médio. É mais um zelo, um respeito pelo teatro, que penso sempre antes de subir num palco. Nesse pensamento, eu pude assistir o teatro-conferência Endoscopia, em 2005, do Grupo Katharsis/Sorocaba, que de tão técnico, provocativo e investigativo, me levaram aos ventos teatrais sorocabanos, justamente para este grupo, no qual participo ativamente até hoje.
Você teve algum padrinho no teatro?
     Eu comecei a fazer teatro em 2000, no CEC Brasital/São Roque com Humberto Gomes. Ele foi o meu padrinho nesta época, sempre me estimulando, incentivando e confiando a mim personagens centrais nas montagens com o núcleo de teatro da Brasital. Mais tarde, como é comum no teatro, as pessoas viajam, ele viajou e eu ingressei no Katharsis. Lá, com o diretor Roberto Gill Camargo, a quem tenho como grande mestre, iniciamos um trabalho intenso de corpo para desenvolver o primeiro espetáculo da trilogia sobre a teatralidade, “Aves, ovos e parafusos”. Eu pude trabalhar ao lado de Ademir Feliziani, um magnífico ator sorocabano, e também com Andréia Nhur. São pessoas que me apadrinharam, que me ensinaram, que em cena me convidaram a jogar teatro com eles. Isso foi mágico.
Já saiu no meio de um espetáculo?
     Já, sim. Não citarei os espetáculo, mas contarei brevemente o que já aprontei por aí. Teve vezes que o sono me assolou e pensei que seria pior se ficasse na sessão – vai que eu ronco. Certa vez eu não gostei do espetáculo, achava uma ofensa, e fui embora de mansinho, tal como costumo fazer no cinema. Por cansaço, ainda, fui embora no intervalo do espetáculo dos “Sertões” do Teatro Oficina, o que é normal, já que pude aproveitar mais assistindo a segunda parte num outro dia. O pior, mesmo, foi ter perdido a sessão por causa de bar e jogo de futebol, nem se fosse sair no meio da sessão seria tão ruim, mas perder a sessão é que me deu muita raiva.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
     O próprio Endoscopia. Sabe quando você está assistindo um espetáculo e dá uma vontade de entrar em cena? Foi isso o que aconteceu. Não é a toa, eu sempre tive, de fato, uma ligação do meu corpo com a linguagem do Grupo Katharsis e assistir o espetáculo causava reações “pra agir” no corpo, tanto é que, no momento do debate, eu não me aguentava, eu falava demais.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
     Sim. Eu já assisti o Zé Celso mais de uma vez, o Gerald Thomas, Antunes Filho, o espetáculo “Agreste” da Cia. Razões Inversas, o Circo-teatro Guaraciaba com o espetáculo “E o céu uniu dois corações...”. Enfim, foram vários. É como assistir um filme, de tão bom, eu assisto várias vezes, mas com uma diferença clara, no teatro o espetáculo está constante transformação e eu posso acompanhar a evolução técnica. É um exemplo de método de aprendizagem.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
      Dias Gomes. Eu assisti o filme “O pagador de promessas”, direção de Anselmo Duarte, em 2000, e desde então, tem sido o filme que mais admiro. Gomes é espetacular, um texto incrível, sensível, ingênuo, uma síntese brasileira.
         E autor estrangeiro, Shakespeare. Eu gosto das comédias, das tragédias, tragicomédias, dos dramas históricos, até mesmo os poemas e sonetos. É o autor que enriquece a alma, em melhores palavras, me deu substância afetiva pra ler teatro, me encantando faz da minha leitura um objeto de puro prazer.
Qual companhia brasileira você mais admira?
         Alguns grupos eu sempre acompanho, como o LUME/Campinas, Teatro Oficina/Zé Celso, e em especial, o Macunaíma/CPT, mas eu sou jovem e quase sempre me surpreendo com um grupo já existente e que ainda desconhecia, tal como aconteceu quando tive contato com o Galpão, Grupo Folias, XIX, Barracão, e tantos outros. E na região, ainda pude assistir o trabalho do Coletivo Cê/Sorocaba, com o belíssimo espetáculo Desterro.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
     Esta pergunta é emblemática, pelo próprio esforço da literatura em classificar as suas obras em gêneros, o mesmo acontece no teatro. No Katharsis, quase sempre classificamos o espetáculo como comédia, dado a sua veia-cômica, mas isso não é uma verdade absoluta, no último espetáculo, Astros, Patas e Bananas, os gêneros se misturam e se intercalam em cenas, ora cômicas e ora dramáticas. Muitos espetáculos essencialmente cômicos me cansam, chega a doer as mandíbulas e após a metade da peça estou esgotado. Eu gosto das nuances de gêneros, “a la” Machado de Assis e Rosa, ou que alguns diretores do cinema fazem de modo genial, como Fellini e Vittorio de Sica.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
     Uma coisa pode não ajudar a outra. Acho que se me derem um texto de Tennesse Williams, autor brilhante da dramaturgia americana, eu farei uma besteira. Não tenho propósito em montar este espetáculo, pelo menos no momento, e talvez, nem capacidade. É uma obra muito densa e exige muito do encenador. Eu me lembro de assistir num  festival a montagem de Morte e Vida Severina, adaptado da obra de João Cabral de Melo Neto, e os debatedores fizeram duras críticas a pretensão do jovem grupo a montar uma obra desconhecendo sobre o autor e a referida montagem musicada por Chico Buarque. Para os debatedores era um desrespeito. Além disso, um texto pode não ajudar mesmo que o encenador/diretor seja muito bom, os “buracos” podem aparecer, antes ou tarde.
Cite um cenário surpreendente.
     Todas as partes do espetáculo “Os sertões” com montagem do Teatro Oficina e o espetáculo “Café Müller”, citado mais acima, por conta da mobilidade do cenário, seus objetos variam de posições constantemente, e são também, importantes quando estáticos. A impressão que dá, é que o objeto está vivo, articulando com o espetáculo na produção do sentido. Ele não é pra fins decorativos, mas complementa a obra e os atores estabelecem uma relação de cumplicidade com ele.
Cite uma iluminação surpreendente.
         Gerald Thomas, “Um circo de rins e fígados”, com interpretação impecável de Marco Nanini e uma iluminação doida. A luz segue o ator, dá dimensão ao corpo, cria uma atmosfera e ainda assim, não perde o sentido da luz - iluminar. Só que isso já faz tanto tempo, que posso estar enganado.
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
     A atuação de Dagoberto Feliz e, em especial, Danilo Grangheia, na montagem “Palhaços” do Grupo Folias/SP. Tive que assistir essa peça outra vez. Grangheia me surpreendeu ainda mais no espetáculo a “Orestéia – O canto do bode” (2007), apesar de não gostar do espetáculo, ele é muito bom.
O que não é teatro?
     Não sei. Sou jovem e quase sempre assisto algum espetáculo que rompe os paradigmas enraizados pelo meu próprio tempo de exercício teatral. Eu não entendo o teatro quando ele é feito em detrimento de outra coisa, por exemplo, quando enfocam na educação ou nos vulgo “teatro-empresa”, “teatro-escola”. Para mim, não é teatro na sua essência, mesmo que sejam válidos. É como ter como presidente do banco central um médico, ao invés de economista, ou até mesmo, ter como secretário da educação um administrador e não um professor. O teatro tem a sua especificidade e não dá pra negar isso, ele é arte, e arte investiga, é ciência, tenta compreender e buscar explicações para a realidade, e até mesmo, nos diz mais sobre o futuro do que a própria tecnologia.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
     Não, de modo algum. Teatro não é terapia. Eu estudo muitas horas por semana, tenho uma graduação, e ainda ensaio mais de 10 horas aos finais de semana. Se me disser que tudo é válido, eu diria então que estou “gastando” tempo, quando poderia dizer que estou “produzindo”. Fazer teatro é pisar em cacos de vidro, tem que tomar cuidado pra não mexer com os mestres e ter total consciência de onde está pisando.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
     Muitas pessoas dizem isso, mas eu vou repetir. Eu li um artigo do Boal cujo título, se me lembro bem, era “Teatro, a arte do futuro”. Por que? Fantástico. Mesmo no mundo da virtualização e praticidade, as artes cênicas mantem como base o jogo palco-platéia e por isso seria o único lugar onde “gente” encontrará “gente”. Se assim for, quem sabe o público aumentará – pelo menos, o IBGE divulgou em 2010 um aumento do público nos teatro brasileiros em todo o território nacional. Aí, teremos com consequência direta mais gente produzindo, mais difusão do conhecimento e mais edifícios teatrais.
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
         Eu poderia chorar. Os meus livros estão todos em São Paulo e como vim para o Rio de Janeiro, só pude trazer ½ dúzia pra consulta, entre eles:
         - Palco & Platéia – Roberto Gill Camargo
         - O papel do corpo no corpo do ator – Sônia Machado de Azevedo.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
     Cacildas, que difícil! Diria... Antunes Filho, Shakespeare e Fernanda Montenegro. E ainda teria que dizer que admiro o trabalho do Gill como diretor do Katharsis.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
     Bem, falarei do palco à italiana, o qual eu tenho mais conhecimento. O teatro de Campos/RJ, na Fundação Trianon, é um absurdo. É gigante, tudo digital e trocam o equipamento regularmente – o que os royalties não fazem, né? Ele é maravilhoso para qualquer “mega produção” e, confesso, não saberia o que fazer com “tudo isso”. O que eu mais gosto, que tem a cara das produções  do Katharsis, é o Teatro do Sesi/Sorocaba, ele possui bons equipamentos e um tamanho modesto. Agora, o pior, devem ser aqueles que estão quase caindo aos pedaços, que precisam urgente de uma boa reforma, ou foram feito só na base de concreto sem pensar na acústica – eu vejo diversos auditórios em cidades pequenas, onde ocorrem apresentações teatrais, como acontece no auditório do CEC Cultural Brasital.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
         “Novas diretrizes em tempos de paz”, com Tony Ramos e Dan Stulbach, no Teatro Municipal de São Paulo, em 2005. Tem tudo a ver com um momento pessoal da minha vida, de trocar as casas e culturas. Lembro da cena inicial, todo aquele suspense e as mentiras que Dan/Polonês inventa para poder ficar no país, e ainda, citar Fausto, de Goethe.
O teatro é uma ação política? Por quê?
     Todo o teatro é uma ação política e social. Não precisa dizer que é, só precisa ser teatro.
Por que você faz teatro na região?
     Fazendo, só assim fazer teatro na região adquiriu sentido. Quando comecei fazer teatro eu pensei em muitas possibilidades de lugares para ir e vir, mas, ainda bem, que fazendo teatro, vi que as trilhas que percorri são fundamentais e não poderiam ser diferentes.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
     Movimento, impulso, energia, fluxo de pessoas, cumplicidade, difusão, amor/amadorismo, produção de conhecimento, contato, compartilhamento, entre tantas outras palavras. O teatro da região, seja aí ou onde quer que seja, tem a sua identidade e ninguém pode tirar isso de nós, mesmo os projetos “malucos” do governo que nos entendem como tábulas rasas, sem conhecimento algum, sabemos que são apenas medidas drásticas de pessoas incompetentes tentando mostrar serviço. Para o governo, nós não somos competentes para gerir grandes quantidade de recursos, mas cá entre nós, eles também não são competentes para avaliar o nosso trabalho. Por último, gostaria de dizer que, quanto mais eu vou, mais eu quero ficar.
Foto: Inês Correa


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