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segunda-feira, 30 de maio de 2011

"ERA UMA VEZ" EM TAIPAS DE PEDRA


Local da apresentação

Uma das ações culturais para este ano da Divisão de Cultura da Prefeitura da Estância Turística de São Roque é levar para os bairros da cidade, circo, teatro e cinema.
CiadeEros está dentro da programação, com apresentações da peça "Era uma vez", vencedora da fase municipal do Mapa Cultural Paulista e no último sábado (27) levamos a peça até a Emei de Taipas de Pedra (+ ou menos 12 km distante do centro). 
O espaço para a apresentação, desta vez, foi uma "capoeira" (um terreno desmatado, de origem tupi: Kopwera, de ko=roça + pwera=que já foi) ao lado da escola, um local que os alunos utilizam para brincar. E foi lá que brincamos com o fazer teatral...
Nosso público
O público presente, em sua maioria crianças, foi nosso maior desafio, pois esta é a plateia mais difícil de agradar, mas acredito que não a decepcionamos.
Quando indagados ao final da apresentação sobre o que tinham achado, uma delas me respondeu com uma pergunta: "Quer chá?", usando de um mote das personagens da peça. Outra pessoa lamentou o final, pois disse ficar "torcendo" para que João Ninguém voltasse para sua Maria Ninguém.
Outro comentário, foi com relação ao tema: trabalho e consumo. Disse um rapaz que trata da sua realidade, ou seja, é só o que ele faz atualmente. 
Mas, o que mais considerei "fofo" foi o comentário da cuidadora da escola, a Isabel. Ela disse que nunca havia assistido uma peça de teatro e que nunca esperaria ver uma ali, no local em que ela trabalha.
Para todos nós, uma experiência inesquecível...
Abraços para toda a comunidade de Taipas de Pedra pela acolhida dada a CiadeEros.
Próxima apresentação dia 25/06 no Goianã.
Fotos: Lélis Andrade


sexta-feira, 27 de maio de 2011

MAPA CULTURAL PAULISTA - FASE MUNICIPAL SÃO ROQUE

Para quem não sabe, o Mapa Cultural Paulista tem como proposta, promover o intercâmbio regional e o mapeamento dos produtores de cultura e de suas atividades no Estado e foi criado em 1995. Essa ideia nasceu da necessidade de fomentar a produção cultural do interior. Buscou-se criar uma grande vitrine cultural com o propósito de identificar, ressaltar e divulgar os produtos culturais das diversas regiões do interior paulista.
Durante a realização do evento são selecionados artistas das 13 regiões administrativas do Governo do Estado, incluindo litoral e Grande São Paulo, para participar de atividades culturais distribuídas em três fases. Em todas elas os artistas que se destacam, apresentam seus trabalhos, primeiro no município de origem, depois na região em que está inserido e, na final, chamada fase estadual, apresentam-se na capital paulista.
As expressões artísticas trabalhadas neste projeto são: vídeo; conto; teatro; dança; poesia; fotografia; canto coral; artes plásticas; desenho de humor.
Na última semana, foi realizada a fase municipal em São Roque e vou tratar aqui apenas das duas linguagens que tenho mais afinidade: Teatro e Dança.
A CIAdeEROS, grupo formado há 1 ano na Brasital com o apoio da Divisão de Cultura e que tem a minha coordenação, participou com 4 trabalhos. 
Nosso objetivo era aproveitar o evento para mostrar nossa produção, mesmo porque o Autônomos, outro grupo da cidade, e que apresentaria um belíssimo espetáculo, não concorreu por motivos diversos, assim, sabíamos que a responsabilidade de representar São Roque na fase regional seria nossa, só não sabíamos com qual trabalho. 
O júri formado por Amanda Sobral, Dani Oncala e Ismael definiram que a peça "Era uma vez...", de Vitor Gabriel Martinez, com minha adaptação para o grupo, trabalho que estreamos em dezembro de 2010, será a representante de São Roque na fase regional, que está prevista para acontecer entre agosto e outubro de 2011. 
É motivo de muita alegria pra nós da CIAdeEROS, colocar o nome da cidade novamente na cena da região já que, salvo engano, a última participação de São Roque no Mapa foi no ano de 2003, com "Aviso da Lua que Menstrua", do Abraçando Quixote, que trouxe prêmio de Melhor Ator para Anderson Ribeiro e uma Menção Honrosa pela Contemporâneidade da Proposta Cênica.
Em Dança, a cidade será bem representada pela Cia Nó de Nós, grupo que tem uma participação ativa com trabalhos sempre criativos. 
A coreografia forte e ousada criada por Eduardo Barros, tenho certeza, causará  "frissons" (única palavra que consegui encontrar para descrever o que senti, juntamente com o público entusiasmado presente na noite de sexta-feira passada).
Nos vemos na próxima fase...
"Era uma vez..."

Solidão com Rodolpho Heinz

Eros e Psiquê com Matheus Pezzotta e Dani Campos

O Rei que fazia desertos com Joaquim Marquês

Cia Nó de Nós

Fotos: Marco Lessa e Jennifer Nascimento







terça-feira, 24 de maio de 2011

SENSO TEATRAL COM ANGELA MARIA PRESTES


SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
A convidada agora é Angela Maria Prestes, atriz que estou saudosa de vê-la nos palcos...
  
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Eu não sei exatamente quantos anos eu tinha, só sei que eu era muito pequena, estudava numa escola rural na cidade de Apiaí, não sei se na primeira ou segunda série, lá tinha uma graciosa Senhorinha chamada Dona Dirce, que realizou uma peça sobre Civilização, eu nem era aluna dela, mas cara-de-pau desde criança fui logo me metendo na história, minha personagem se chamava Fernandinha. No dia da apresentação, reuniu todos os moradores do pequeno bairro de Palmitalzinho, a família estava presente, foi mesmo emocionante e desde então toda peça que surgia na escola eu estava lá fervendo, desde sempre eu dizia que ia ser atriz, e já nessa mesma época meus primos me tratavam como a atriz da família. Aconteceu. EVOÉ!!!
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Foi lá nessa mesma escola E.E.P.G. Leopoldo Leme Werneck, minha irmã estava em cena, eu vi, gostei muito e tive certeza que eu também queria, só não sabia que ia ser para sempre. Mas fora desse meu universo escolar, não lembro a primeira peça que vi, acho que foi na época que eu era aluna do SESI em Sorocaba, talvez tenha sido Marcelino Pão e Vinho com direção do Mário Pérsico.
 Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Café com Queijo” com o grupo Lume de Campinas.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
O espetáculo “Popol Vuh Primeiros Cantos da Escrita do Deus,” foi minha peça de conclusão de curso na Escola Livre de Teatro de Santo André, foi uma transformação pra mim, fui atravessada, foi bem difícil, mas de uma grande preciosidade, estavam lá meus grandes mestres Antônio Rogério Toscano e Cuca Bollfi.
Você teve algum padrinho no teatro?
CARLOS ROBERTO MANTOVANI.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Nunca sai, mas já dormi horrores, até sonhei.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“Concerto de Ispinho e Fulô”, da Cia do Tijolo, o Rogerinho Tarifa da Cia São Jorge foi quem dirigiu. E o por quê,? É por ser uma peça que fala de raízes, é um espetáculo belíssimo, eles contam a história do Patativa de Assaré, ao mesmo tempo que vão contando a história deles, é lindo quando os atores falam de suas cidades, eu com certeza teria falado de duas cidades, a cidade de Apiaí e Sorocaba.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim, vários espetáculos, a peça que acabei de falar ali em cima é uma delas, uma dessas tantas outras é o espetáculo de Sorocaba do Grupo Katharsis,”ASTROS, Patas e Bananas”, dirigido pelo Roberto Gill Camargo, este é um exemplo de grupo que trabalha muito, que estuda muito, que com certeza passam horas na sala entregues a essa delícia do encontro para criar, eles tem uma escuta muito grande entre eles, e com nós o público.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Luiz Alberto de Abreu, Jorge Andrade, Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri, Anton Tchekov, Bertold Brecht e Eurípedes, e etc... (putz, não consegui colocar só um).
Qual companhia brasileira você mais admira?
Cia São Jorge de Variedades.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Não tenho um único gênero, gosto do Teatro Épico, o Realista, Teatro de Rua, agora to me metendo também com a Commédia Dell’ Arte, me fascina o Teatro Físico, acabei de sair de uma escola da qual surgiu o Teatro Colaborativo, ainda assim todos me interessam, mas o que eu aprecio mesmo é o grupo que realmente trabalha, não me interessa mais só decorar o texto e em um mês subir no palco.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Ambos, vou redundar agora, mas o que acontece muito hoje com alguns grupos é pouco trabalho, sabe? É muita vontade de querer fazer que não dá o tempo justo do processo, acho que os músicos são exemplos para nós atores, pois eles estudam muito, passam horas com seu instrumento, e depois é claro, que não vão desafinar.
Cite um cenário surpreendente.
Do espetáculo Lês Éfhémères com o Théâtre Du Soleil.
Cite uma iluminação surpreendente.
Todas que vi do Wagner Antonio, a luz contava a história junto com os personagens.
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Marco Antonio Rodrigues no espetáculo “Reunião de Família,” ele surpreendeu a todos com a personagem Berta, que era uma senhora. Ele muito jovem fazendo uma velhinha. Perfeito. Nunca vou esquecer.
O que não é teatro?
 Teatro não  hobby, digo isso porque na cabeça de muita gente, até de alguns políticos, o teatro não é considerado como um trabalho sério, o Fernando Lomardo falava algo muito interessante a respeito disso, que é o seguinte: Quando você vai numa pizzaria você não pergunta se precisa pagar pela pizza, ou se vai ao dentista também não pergunta se precisa pagar pela consulta, você tem que pagar. Certeza que quem é do teatro sabe do que eu estou falando, mas isso com muita luta da classe teatral está mudando, lentamente, mas está.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Se cabe na arte, então cabe no teatro, não tem como dissociar o teatro da arte.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
A tecnologia agora está dentro do teatro também, só tem que saber como usar, já vi muitas peças boas que usufruíram belamente dela, e o contrário também, e o que mais espero é  casa lotada sempre. Amém!!!
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Os do Dostoievski, do Brecht, da Ligia Fagundes Telles, da Clarice Lispector, do Lorca, Ibsen, do Buchner, do Yoshi Oida, do Rainer Maria Hilke, o livro Esculpir o Tempo do Tarkovski e etc...
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Rogério Tarifa, Luiz Alberto de Abreu e Angela Barros.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
Não tem pior espaço, o espaço só tem que ser bem explorado e o teatro acontecer, independente se for no teatro de arena, no palco italiano, na rua, todos são bons, não consigo dizer qual é o melhor, mas existem sim espaços mal administrados, ô se existe. Qualquer lugar dá para fazer um palco, é só querer e fazer.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
A peça Toda Nudez será castigada do Nelson Rodrigues, foi a primeira peça que assisti em São Paulo, o Mantovani que organizou essa viagem, a Leona Cavali arrasava no papel da Geni, fiquei por um bom tempo repetindo as falas dela, sabe quando algo fica martelando na sua cabeça?
O teatro é uma ação política? Por quê?
Com certeza, também não dissocio Teatro de Política.
Por que você faz teatro na região?
Na verdade eu fiz por um bom tempo, já faz quase 5 anos que me ausentei, mas sei que um dia vou estar em algum projeto de Sorocaba novamente. Sorocaba é meu berço Teatral, sou realmente muito grata a muita gente, ao Mantovani que foi meu primeiro diretor, foi quando comecei a ouvir falar de tragédia grega, ao Benão, foi pela boca dele que conheci o Nelson Rodrigues, sou grata também ao Marcelo Marra, tive uma bonita passagem pelo grupo Entreatus, lá me ensinaram até a falar corretamente,  agradeço a Ana Maria Lima pela parceria sempre, no palco e fora dele, ao Fernando Lomardo,  ouvir esse homem era uma grande aula, João Petry que me ensinou a deixar de cristalizar o olhar em cena, Angela Barros com  suas provocações a nos mostrar o quão valioso é o estudo, Fernando Faria com seus estudos da cena expressionista, nossa!!! É muita gente, vai faltar alguém aqui nessa escrita, mas eu lembro de tudo ouviu?  E agora confesso que o meu grupo de coração foi o “Tubarão que deu origem a série” com a direção de Benê de Oliveira,  o Benão, e aqui termino dizendo que agradeço também ao Márcio Gouveia, o cara que me mostrou o jeito de não fazer teatro.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Como não moro mais na cidade, ultimamente tenho visto poucos trabalhos da região, os últimos que vi foram: “Resumo de Ana,” com o grupo Manto, “Astraças e suas Quinzenas,” com a Panã Pana Cia de Artes, “Astros, Patas e Bananas,” com o grupo Katharsis, mesmo de longe consigo acompanhar alguns acontecimentos da classe, e digo que foi uma grande tristeza não ter acontecido no ano passado o festival de teatro de Sorocaba,  festival que inclusive eu já participei duas vezes, a Sated ajudou a desunir os artistas da cidade, digo não todos, mas uma parte deles, que tristeza. Mas não posso deixar de dar os parabéns aos grupos que estão vigorosos trabalhando, é um povo bravo que resiste e coloca seus projetos em pé, se ocê trabaiá, vinga fio, vinga fia, pode acreditá. Muito obrigada Lisa, me proporcionou uma viagem maravilhosa no tempo, muitos beijos.
Angela Maria Prestes.“O TEATRO EDUCA.”

Angela Maria Prestes, atriz, iniciou sua carreira na cidade de Sorocaba. Formada pela Escola Livre de Teatro (ELT) de Santo André, atualmente trabalha na nova montagem da Cia São Jorge de Variedades e também integra um grupo que trabalha com Máscaras na ELT, com direção de Cuca Bollafi.



domingo, 22 de maio de 2011

SENSO TEATRAL COM ANTONIO VICTÓRIO

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado é Antonio Victório, amigo que ampliou meu olhar para a cenografia.


Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Foi a muito tempo, quando era pré-adolescente, essas coisas de professora boa de artes...

Lembra da primeira peça a que assistiu?
 Acho que fiz teatro antes de assistir a qualquer peça..., realmente não me lembro.

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
História de Um Barquinho de Ilo Krugli.

Um espetáculo que mudou a sua vida.
Buster Keaton contra a infecção sentimental, primeiro espetáculo do Grupo XPTO.

Você teve algum padrinho no teatro?
Padrinho não, mas convivi e aprendi muito com grandes mestres, Ilo Krugli e Osvaldo Gabrielli.

Já saiu no meio de um espetáculo?
Sou fadado a não conseguir ficar até o fim de espetáculos, muita coisa me incomoda, não gosto da linguagem teatral quando encenada; fico impaciente quanto a luz, a cenografia, tempos teatrais...isso é um grande defeito que me incomoda bastante, porém, estou começando a conviver com ele. Isso acontece até com as minhas encenações.

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Não sou um homem de palco(ator), sou mais encenador, daí vem uma série de espetáculos que gostaria de ter encenado.

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Muito raro, mas quando é de amigo a gente se esforça e vai lá prestigiar mais de uma vez.

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
      Ariano Suassuna e Garcia Lorca, mas tive a oportunidade de fazer uma leitura do Luis Alberto de Abreu (Sacra Folia) e sua dramaturgia é das mais ricas, nos possibilita brincar na criação do espetáculo.

Qual companhia brasileira você mais admira?
Teatro VENTOFORTE, por sua resistência e linguagem!

Qual gênero teatral você mais aprecia?
Aquele que possibilita o diálogo entre as várias linguagens artísticas.

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Os dois, às vezes o texto é ruim, às vezes o encenador erra na leitura e quando as duas coisas acontecem ao mesmo tempo é desesperador.

Cite um cenário surpreendente.
Trilogia Kafka. Daniela Thomaz e Gerald Thomaz.

Cite uma iluminação surpreendente.
Trilogia Kafka. Daniela Thomaz e Gerald Thomaz.

Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Foi esses dias durante um festival de monólogos em Mairinque (FESPIMA), um “menino” chamado Joaquim Marquês, integrante da CiadeEros de São Roque.

O que não é teatro?
A miséria imposta aos homens (alguns fazem “teatro” dela, mas não é).

A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Não cabe no teatro e nem em qualquer outra arte; tudo vale na vida.

Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
Voltar para as mãos do encenador, do ator, do iluminador, do cenógrafo, do maquiador, do figurinista, ... a “artesania” teatral.

Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Os da biblioteca Mario de Andrade.

Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Antunes Filho, Antonin Artaud, Paulo José.

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O teatro cabe em qualquer lugar, dentro da caixinha de papelão ao Teatro Colón.

Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Primeiras Rosas do Pia Fraus, uma cena realizada numa mesa.

O teatro é uma ação política? Por quê?
Claro que sim. O teatro tem que passar pelo poder de transformar o seu entorno, e isso é político.

Por que você faz teatro na região?
Por que aqui estou.

Algumas palavras sobre o teatro da região.
 É muito legal ver pessoas trabalhando teatro em qualquer lugar, mas aqui em nossa região sinto que as coisas vão bem, cada dia me surpreendo com meus atores, meus companheiros de trabalho e acima de tudo com os vários grupos começando suas pesquisas, suas investigações, seu caminho, na tentativa de tornar a linguagem teatral mais visível aos olhos de todos.

Antonio Victório fez parte dos grupos Ventoforte e Pia Fraus de São Paulo. Em Mairinque desde os anos 2000, dirigiu vários espetáculos e foi professor na Escola Municipal de Artes. Atualmente dirige o grupo "Sacra Mistura" da cidade de Alumínio-SP. 


quinta-feira, 19 de maio de 2011

SENSO TEATRAL COM LÉLIS ANDRADE


SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado agora é Lélis Andrade, ator por quem tenho muito afeto e respeito...

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Surgiu durante os ensaios da peça “A Ver Estrelas” com direção de Lisa Camargo e texto de João Falcão, no qual acabei por assistir diversos filmes do Charles Chaplin para a construção do meu personagem o “Pierrot”. E no exato momento que observei aquele personagem “Carlitos”, percebi o quanto a sua atuação era poética, cheio de amor e pulsação da vida. E vendo aquela gigantesca junção de arte, encontrei-me. E decidi que aquele seria o caminho que direcionaria a minha vida.
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Espetáculo: Descobrimento do Brasil. Direção: Humberto Gomes.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
O espetáculo “Primus”. Direção: Verônica Fabrini. Grupo: Boa Companhia. Não mudou exatamente a forma de ver o teatro, mas sim, de fazer teatro.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
Apenas um espetáculo não conseguiria dizer. Mas, quase todas as peças (Café Muller, Ten Chi, etc.) que assisto da Pina Bausch, transcende minha forma de ver a arte, seja ela qual for.
Você teve algum padrinho no teatro?
Não sei exatamente se eu a chamaria de madrinha do teatro. Porém, considero como uma “mãe” do teatro para mim: Lisa Camargo.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Nunca. Porém, já tive vontade de sair de vários espetáculos. Mas, infelizmente, estava em um lugar inapropriado para tal feito, e iria acabar atrapalhando outras pessoas da platéia.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Peça: Do jeito que você gosta. Texto: William Shakespeare. Direção: Marcelo Lazaratto. Companhia: Cia Elevador Panorâmico de Teatro. Gostaria de participar pela forma na qual foi adaptada a montagem da peça: O figurino (contemporâneo), o cenário (criado a partir da voz dos personagens) e as movimentações cênicas (desenhada de forma minuciosa).
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Não que me lembro o nome de algum exato agora. Mas com certeza gostaria de ter assistido vários.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Dramaturgo brasileiro: Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna. Estrangeiros: Bertolt Brecht e William Shakespeare.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Boa Companhia – Campinas – Sp.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Teatro Épico
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existem peças ruins e encenadores equivocados.
Cite um cenário surpreendente.
O espetáculo “Ten Chi” de Pina Bausch.
Cite uma iluminação surpreendente.
Espetáculo: Holoclaustro. Direção Alexandre Caetano. Cia Experimental Theatron.
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Ator: Paulo Autran. Atriz: Fernanda Monte Negro.
O que não é teatro?
Tudo que antes, não é feito com amor.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
NÃO, pois algumas pessoas acham que tudo pode ser qualquer coisa. Penso que lidando com teatro ou qualquer outra arte, antes de tudo, deve ser concebido a partir de um grande estudo.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
O futuro do teatro NUNCA será medido pela tecnologia. Enquanto artistas fizerem teatro com amor, ele (teatro) nunca chegara ao seu fim por motivo algum. Isto está comprovado, pois o teatro existe desde as cavernas.
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Em geral, qualquer livro. Pois qualquer tipo de livro cabe dentro do teatro partindo da visão de quem o concebe.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Diretor: Alexandre Caetano. Autor: Bertolt Brecht. Ator: Moacir Ferraz.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O pior espaço para o teatro é aquele no qual as pessoas não respeitam a arte Teatral como deve ser respeitada. O melhor local para se fazer teatro, é onde exista uma platéia que tenha um mínimo de respeito por tal.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Espetáculo: Primus. Cena: Qualquer cena.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Sim, pois ao meu ver, é um espaço para reflexão, discussão e apontamentos. Caso contrário, será um teatro morto.
Por que você faz teatro na região?
Por que foi onde começou tudo.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Algumas vezes vejo o teatro sendo feito em minha cidade, por certas pessoas, sem nenhum amor. Porém, vendo de uma forma geral, o cenário teatral na minha região tem evoluído muito com o devido respeito que é necessário.
Lélis Andrade na cena de Othelo (o que segura a cabeça)


Lélis Andrade está no 4° ano de Artes Cênicas na CEUNSP e é integrante dos grupos 3° Sinal de Produções e Cia Experimental Theatron, ambos de Salto.

SENSO TEATRAL COM GUI MARTELLI

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
Agora é a vez de Gui Martelli, ator que considero um "bicho de palco" e que sonho ver atuando em cinema também...

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

Surgiu brincando de fazer teatro. Isto até minha “primeira estréia”. A partir daquele momento, já percebi que a “brincadeira” era “séria”, e o quão sério é brincar !
Lembra da primeira peça a que assistiu?
A primeira de que recordo foi uma montagem de “Vestido de Noiva” (Nelson Rodrigues), em Curitiba, por um Grupo cujo nome jamais lembrarei.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro
“Quartet” (Bob Wilson), quando percebi o quanto a TÉCNICA pode ser trabalhada.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
“Aldeotas”, quando percebi que para fazer teatro, só havia necessidade de ator e espectador (sei que essa afirmação nega a resposta anterior. É proposital! (Rss)
Você teve algum “padrinho” no teatro?
Padrinho, não tive nem quando nasci (não fui batizado). Tive sim, muitos mestres: Silvestre Guedes (Ilhéus-BA), Roberto Gill Camargo (Sorocaba-SP), Renato Turnes (Florianópolis-SC), Angela Bauer (Mafra-SC), Augusto Boal (Mundo)...
Já saiu no meio de um espetáculo?
Não gosto... mas têm momentos que a tortura é tão grande... NÃO SOU MASOQUISTA!
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Estudava na Faculdade sobre o grupo espanhol “La Fura dels Baus”, um grupo que tem uma linguagem própria de pesquisa no teatro, há quase 40 anos. Tive o prazer de integrar um grupo de 50 artistas brasileiros que participaram de uma oficina com o grupo, em São Paulo, no mês de dezembro de 2010. Apresentamos um espetáculo, no dia 04 de dezembro, no Memorial da América Latina, para um publico de 12 mil pessoas, lado a lado com os atores e técnicos do La Fura. Uma experiência ímpar. Ainda sonho em participar de um espetáculo de Peter Brook.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Já. Porque merecia.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Contemporâneo, ou de todos os tempos? Citaria dois nomes: o genial Nelson Rodrigues (um dos maiores, não só do Brasil, mas do mundo) e Ariano Suassuna.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Aprecio muito o trabalho do Grupo Galpão, de MG. Também acredito muito no grupo que integro (o Katharsis).
Qual gênero teatral você mais aprecia?
O feminino (rss).
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existem sim. Os dois. Quando os dois se encontram, então... é uma catástrofe!  Porém, um bom encenador pode salvar uma peça ruim; o contrário não ocorre!
Cite um cenário surpreendente.
As catacumbas de “Antígona” (montagem de Antunes Filho), cenografia de J. C. Serroni.
Cite uma iluminação surpreendente.
Meu diretor, Roberto Gill, que também é doutor em Iluminação Cênica, costuma dizer que iluminação boa é aquela em que o iluminador passa despercebido. Concordo! E tenho me surpreendido (positivamente) quando isso acontece (raríssimas exceções).
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
O ator/atriz que me surpreende é aquele (a) que, de repente, SE MOSTRA para mim. Mostrar a si mesmo (por detrás da personagem) é o maior desafio do ator. Este me surpreende.
O que não é teatro?
TV.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
A meu ver, DE MODO ALGUM! Assim estaríamos “minorizando” o trabalho do artista.  Vá dizer ao Antunes Filho, que estudou e trabalhou teatro por mais de meio século, que “tudo cabe”?! Estaríamos assim, afirmando que alguém que faz “oficina de teatro há um mês” pode fazer teatro tão bem quanto Antunes! DISCORDO. É preciso ter estrada (e construí-la). Tudo “é possível”, é “passível”! Se será “cabível”, depende de muitos critérios...
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
O futuro do teatro é ser “o lugar do encontro”; o mesmo que já acontece agora.  O ser humano tem necessidade de encontrar o outro. Num mundo (tecnológico) cada vez mais individual/individualista, o teatro salvará!  Augusto Boal já dizia há poucos anos: “o teatro é a arte do futuro”; no futuro só no teatro gente vai encontrar gente (o fenômeno teatro não ocorre sem esse preceito).
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Ah, difícil. Todos os cânones do teatro merecem ser lidos: Grotowski, Stanislavski, Becket, Kantor, Shakespeare, Nelson Rodrigues. Mas...se você quer fazer teatro, deve conhecer o homem. Deve estudar Filosofia, Antropologia, Ciências Cognitivas, Neurociência, Teoria Evolucionista. Sugiro Richard Dawkins, Zygmunt Bauman, Marshall Berman, dentre outros.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Diretor: sem puxa-saquismo, o meu (Roberto Gill Camargo, do Katharsis), mas é que o cara é uma baita referência mesmo.  Autor: Fernando Pessoa (um dramaturgo que não sabia que o era).  Ator: Chaplin.  Atriz: Cacilda Becker.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O melhor é àquele que oferece condições do espectador ASSISTIR/VER o que se está mostrando.  O pior é àquele onde o espectador VÊ DEMAIS, além do que efetivamente se pretende mostrar.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Perdão... Não pude resistir... Neste momento acaba de vir à mente “a cruzada de pernas da Sharon Stone, em Instinto Selvagem”. Hahaha... Brincadeira.  Gostei muito de assistir ao Paulo Autran, pouco antes de ele subir para o segundo andar.  A peça era ruuuim, bem comercialzinha (Adivinhe Quem Vem Para Rezar), mas vê-lo no palco foi bastante mágico para mim.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Qualquer expressão humana (escolha), por si só, constitui-se em uma ação política.
Por que você faz teatro na região?
Faço teatro onde eu puder fazer. Faço teatro no mundo.  Quando se usa a expressão “fale de seu quintal, e seja universal”, concordo, no sentido de que o quintal deva ser UNIVERSALIZADO. Fale sim do seu quintal, mas procure falar pra todo mundo. Assim a coisa não fica “ensimesmada”.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Temos grupos, e profissionais, de altíssimo nível. Mas infelizmente “os olhares” estão todos voltados para os grandes centros. Muitas vezes os grupos produzem obras incríveis, e têm de se submeter a levar seus espetáculos às capitais, para conseguir validação. Uma vez que “os olhares” não vêem o interior, muitos grupos acabam minguando por falta de patrocínio para manterem a constância de seus trabalhos. Uma triste realidade de um país que ainda tem de aprender muito sobre: valorização dos seus “fazedores de arte”.


Gui Martelli é Ator Profissional, Arte-Educador e Pesquisador em circo e circo-teatro. Possui  Licenciatura Plena em Teatro com Habilitação em Arte Educação - (UNISO). Como ator, trabalha junto aos grupos teatrais: “Katharsis” (Sorocaba-SP), e “Corpos Oníricos” (Votorantim-SP). Como arte-educador, na escola ETAC (Sorocaba). Ministra cursos e oficinas de circo e teatro na região, e fora do Estado.