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quinta-feira, 19 de maio de 2011

SENSO TEATRAL COM GUI MARTELLI

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
Agora é a vez de Gui Martelli, ator que considero um "bicho de palco" e que sonho ver atuando em cinema também...

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

Surgiu brincando de fazer teatro. Isto até minha “primeira estréia”. A partir daquele momento, já percebi que a “brincadeira” era “séria”, e o quão sério é brincar !
Lembra da primeira peça a que assistiu?
A primeira de que recordo foi uma montagem de “Vestido de Noiva” (Nelson Rodrigues), em Curitiba, por um Grupo cujo nome jamais lembrarei.
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro
“Quartet” (Bob Wilson), quando percebi o quanto a TÉCNICA pode ser trabalhada.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
“Aldeotas”, quando percebi que para fazer teatro, só havia necessidade de ator e espectador (sei que essa afirmação nega a resposta anterior. É proposital! (Rss)
Você teve algum “padrinho” no teatro?
Padrinho, não tive nem quando nasci (não fui batizado). Tive sim, muitos mestres: Silvestre Guedes (Ilhéus-BA), Roberto Gill Camargo (Sorocaba-SP), Renato Turnes (Florianópolis-SC), Angela Bauer (Mafra-SC), Augusto Boal (Mundo)...
Já saiu no meio de um espetáculo?
Não gosto... mas têm momentos que a tortura é tão grande... NÃO SOU MASOQUISTA!
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Estudava na Faculdade sobre o grupo espanhol “La Fura dels Baus”, um grupo que tem uma linguagem própria de pesquisa no teatro, há quase 40 anos. Tive o prazer de integrar um grupo de 50 artistas brasileiros que participaram de uma oficina com o grupo, em São Paulo, no mês de dezembro de 2010. Apresentamos um espetáculo, no dia 04 de dezembro, no Memorial da América Latina, para um publico de 12 mil pessoas, lado a lado com os atores e técnicos do La Fura. Uma experiência ímpar. Ainda sonho em participar de um espetáculo de Peter Brook.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Já. Porque merecia.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Contemporâneo, ou de todos os tempos? Citaria dois nomes: o genial Nelson Rodrigues (um dos maiores, não só do Brasil, mas do mundo) e Ariano Suassuna.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Aprecio muito o trabalho do Grupo Galpão, de MG. Também acredito muito no grupo que integro (o Katharsis).
Qual gênero teatral você mais aprecia?
O feminino (rss).
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existem sim. Os dois. Quando os dois se encontram, então... é uma catástrofe!  Porém, um bom encenador pode salvar uma peça ruim; o contrário não ocorre!
Cite um cenário surpreendente.
As catacumbas de “Antígona” (montagem de Antunes Filho), cenografia de J. C. Serroni.
Cite uma iluminação surpreendente.
Meu diretor, Roberto Gill, que também é doutor em Iluminação Cênica, costuma dizer que iluminação boa é aquela em que o iluminador passa despercebido. Concordo! E tenho me surpreendido (positivamente) quando isso acontece (raríssimas exceções).
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
O ator/atriz que me surpreende é aquele (a) que, de repente, SE MOSTRA para mim. Mostrar a si mesmo (por detrás da personagem) é o maior desafio do ator. Este me surpreende.
O que não é teatro?
TV.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
A meu ver, DE MODO ALGUM! Assim estaríamos “minorizando” o trabalho do artista.  Vá dizer ao Antunes Filho, que estudou e trabalhou teatro por mais de meio século, que “tudo cabe”?! Estaríamos assim, afirmando que alguém que faz “oficina de teatro há um mês” pode fazer teatro tão bem quanto Antunes! DISCORDO. É preciso ter estrada (e construí-la). Tudo “é possível”, é “passível”! Se será “cabível”, depende de muitos critérios...
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
O futuro do teatro é ser “o lugar do encontro”; o mesmo que já acontece agora.  O ser humano tem necessidade de encontrar o outro. Num mundo (tecnológico) cada vez mais individual/individualista, o teatro salvará!  Augusto Boal já dizia há poucos anos: “o teatro é a arte do futuro”; no futuro só no teatro gente vai encontrar gente (o fenômeno teatro não ocorre sem esse preceito).
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Ah, difícil. Todos os cânones do teatro merecem ser lidos: Grotowski, Stanislavski, Becket, Kantor, Shakespeare, Nelson Rodrigues. Mas...se você quer fazer teatro, deve conhecer o homem. Deve estudar Filosofia, Antropologia, Ciências Cognitivas, Neurociência, Teoria Evolucionista. Sugiro Richard Dawkins, Zygmunt Bauman, Marshall Berman, dentre outros.
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Diretor: sem puxa-saquismo, o meu (Roberto Gill Camargo, do Katharsis), mas é que o cara é uma baita referência mesmo.  Autor: Fernando Pessoa (um dramaturgo que não sabia que o era).  Ator: Chaplin.  Atriz: Cacilda Becker.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
O melhor é àquele que oferece condições do espectador ASSISTIR/VER o que se está mostrando.  O pior é àquele onde o espectador VÊ DEMAIS, além do que efetivamente se pretende mostrar.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
Perdão... Não pude resistir... Neste momento acaba de vir à mente “a cruzada de pernas da Sharon Stone, em Instinto Selvagem”. Hahaha... Brincadeira.  Gostei muito de assistir ao Paulo Autran, pouco antes de ele subir para o segundo andar.  A peça era ruuuim, bem comercialzinha (Adivinhe Quem Vem Para Rezar), mas vê-lo no palco foi bastante mágico para mim.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Qualquer expressão humana (escolha), por si só, constitui-se em uma ação política.
Por que você faz teatro na região?
Faço teatro onde eu puder fazer. Faço teatro no mundo.  Quando se usa a expressão “fale de seu quintal, e seja universal”, concordo, no sentido de que o quintal deva ser UNIVERSALIZADO. Fale sim do seu quintal, mas procure falar pra todo mundo. Assim a coisa não fica “ensimesmada”.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Temos grupos, e profissionais, de altíssimo nível. Mas infelizmente “os olhares” estão todos voltados para os grandes centros. Muitas vezes os grupos produzem obras incríveis, e têm de se submeter a levar seus espetáculos às capitais, para conseguir validação. Uma vez que “os olhares” não vêem o interior, muitos grupos acabam minguando por falta de patrocínio para manterem a constância de seus trabalhos. Uma triste realidade de um país que ainda tem de aprender muito sobre: valorização dos seus “fazedores de arte”.


Gui Martelli é Ator Profissional, Arte-Educador e Pesquisador em circo e circo-teatro. Possui  Licenciatura Plena em Teatro com Habilitação em Arte Educação - (UNISO). Como ator, trabalha junto aos grupos teatrais: “Katharsis” (Sorocaba-SP), e “Corpos Oníricos” (Votorantim-SP). Como arte-educador, na escola ETAC (Sorocaba). Ministra cursos e oficinas de circo e teatro na região, e fora do Estado. 



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