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terça-feira, 24 de maio de 2011

SENSO TEATRAL COM ANGELA MARIA PRESTES


SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
A convidada agora é Angela Maria Prestes, atriz que estou saudosa de vê-la nos palcos...
  
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Eu não sei exatamente quantos anos eu tinha, só sei que eu era muito pequena, estudava numa escola rural na cidade de Apiaí, não sei se na primeira ou segunda série, lá tinha uma graciosa Senhorinha chamada Dona Dirce, que realizou uma peça sobre Civilização, eu nem era aluna dela, mas cara-de-pau desde criança fui logo me metendo na história, minha personagem se chamava Fernandinha. No dia da apresentação, reuniu todos os moradores do pequeno bairro de Palmitalzinho, a família estava presente, foi mesmo emocionante e desde então toda peça que surgia na escola eu estava lá fervendo, desde sempre eu dizia que ia ser atriz, e já nessa mesma época meus primos me tratavam como a atriz da família. Aconteceu. EVOÉ!!!
Lembra da primeira peça a que assistiu?
Foi lá nessa mesma escola E.E.P.G. Leopoldo Leme Werneck, minha irmã estava em cena, eu vi, gostei muito e tive certeza que eu também queria, só não sabia que ia ser para sempre. Mas fora desse meu universo escolar, não lembro a primeira peça que vi, acho que foi na época que eu era aluna do SESI em Sorocaba, talvez tenha sido Marcelino Pão e Vinho com direção do Mário Pérsico.
 Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Café com Queijo” com o grupo Lume de Campinas.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
O espetáculo “Popol Vuh Primeiros Cantos da Escrita do Deus,” foi minha peça de conclusão de curso na Escola Livre de Teatro de Santo André, foi uma transformação pra mim, fui atravessada, foi bem difícil, mas de uma grande preciosidade, estavam lá meus grandes mestres Antônio Rogério Toscano e Cuca Bollfi.
Você teve algum padrinho no teatro?
CARLOS ROBERTO MANTOVANI.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Nunca sai, mas já dormi horrores, até sonhei.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“Concerto de Ispinho e Fulô”, da Cia do Tijolo, o Rogerinho Tarifa da Cia São Jorge foi quem dirigiu. E o por quê,? É por ser uma peça que fala de raízes, é um espetáculo belíssimo, eles contam a história do Patativa de Assaré, ao mesmo tempo que vão contando a história deles, é lindo quando os atores falam de suas cidades, eu com certeza teria falado de duas cidades, a cidade de Apiaí e Sorocaba.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim, vários espetáculos, a peça que acabei de falar ali em cima é uma delas, uma dessas tantas outras é o espetáculo de Sorocaba do Grupo Katharsis,”ASTROS, Patas e Bananas”, dirigido pelo Roberto Gill Camargo, este é um exemplo de grupo que trabalha muito, que estuda muito, que com certeza passam horas na sala entregues a essa delícia do encontro para criar, eles tem uma escuta muito grande entre eles, e com nós o público.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Luiz Alberto de Abreu, Jorge Andrade, Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri, Anton Tchekov, Bertold Brecht e Eurípedes, e etc... (putz, não consegui colocar só um).
Qual companhia brasileira você mais admira?
Cia São Jorge de Variedades.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Não tenho um único gênero, gosto do Teatro Épico, o Realista, Teatro de Rua, agora to me metendo também com a Commédia Dell’ Arte, me fascina o Teatro Físico, acabei de sair de uma escola da qual surgiu o Teatro Colaborativo, ainda assim todos me interessam, mas o que eu aprecio mesmo é o grupo que realmente trabalha, não me interessa mais só decorar o texto e em um mês subir no palco.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Ambos, vou redundar agora, mas o que acontece muito hoje com alguns grupos é pouco trabalho, sabe? É muita vontade de querer fazer que não dá o tempo justo do processo, acho que os músicos são exemplos para nós atores, pois eles estudam muito, passam horas com seu instrumento, e depois é claro, que não vão desafinar.
Cite um cenário surpreendente.
Do espetáculo Lês Éfhémères com o Théâtre Du Soleil.
Cite uma iluminação surpreendente.
Todas que vi do Wagner Antonio, a luz contava a história junto com os personagens.
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Marco Antonio Rodrigues no espetáculo “Reunião de Família,” ele surpreendeu a todos com a personagem Berta, que era uma senhora. Ele muito jovem fazendo uma velhinha. Perfeito. Nunca vou esquecer.
O que não é teatro?
 Teatro não  hobby, digo isso porque na cabeça de muita gente, até de alguns políticos, o teatro não é considerado como um trabalho sério, o Fernando Lomardo falava algo muito interessante a respeito disso, que é o seguinte: Quando você vai numa pizzaria você não pergunta se precisa pagar pela pizza, ou se vai ao dentista também não pergunta se precisa pagar pela consulta, você tem que pagar. Certeza que quem é do teatro sabe do que eu estou falando, mas isso com muita luta da classe teatral está mudando, lentamente, mas está.
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Se cabe na arte, então cabe no teatro, não tem como dissociar o teatro da arte.
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
A tecnologia agora está dentro do teatro também, só tem que saber como usar, já vi muitas peças boas que usufruíram belamente dela, e o contrário também, e o que mais espero é  casa lotada sempre. Amém!!!
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
Os do Dostoievski, do Brecht, da Ligia Fagundes Telles, da Clarice Lispector, do Lorca, Ibsen, do Buchner, do Yoshi Oida, do Rainer Maria Hilke, o livro Esculpir o Tempo do Tarkovski e etc...
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Rogério Tarifa, Luiz Alberto de Abreu e Angela Barros.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
Não tem pior espaço, o espaço só tem que ser bem explorado e o teatro acontecer, independente se for no teatro de arena, no palco italiano, na rua, todos são bons, não consigo dizer qual é o melhor, mas existem sim espaços mal administrados, ô se existe. Qualquer lugar dá para fazer um palco, é só querer e fazer.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
A peça Toda Nudez será castigada do Nelson Rodrigues, foi a primeira peça que assisti em São Paulo, o Mantovani que organizou essa viagem, a Leona Cavali arrasava no papel da Geni, fiquei por um bom tempo repetindo as falas dela, sabe quando algo fica martelando na sua cabeça?
O teatro é uma ação política? Por quê?
Com certeza, também não dissocio Teatro de Política.
Por que você faz teatro na região?
Na verdade eu fiz por um bom tempo, já faz quase 5 anos que me ausentei, mas sei que um dia vou estar em algum projeto de Sorocaba novamente. Sorocaba é meu berço Teatral, sou realmente muito grata a muita gente, ao Mantovani que foi meu primeiro diretor, foi quando comecei a ouvir falar de tragédia grega, ao Benão, foi pela boca dele que conheci o Nelson Rodrigues, sou grata também ao Marcelo Marra, tive uma bonita passagem pelo grupo Entreatus, lá me ensinaram até a falar corretamente,  agradeço a Ana Maria Lima pela parceria sempre, no palco e fora dele, ao Fernando Lomardo,  ouvir esse homem era uma grande aula, João Petry que me ensinou a deixar de cristalizar o olhar em cena, Angela Barros com  suas provocações a nos mostrar o quão valioso é o estudo, Fernando Faria com seus estudos da cena expressionista, nossa!!! É muita gente, vai faltar alguém aqui nessa escrita, mas eu lembro de tudo ouviu?  E agora confesso que o meu grupo de coração foi o “Tubarão que deu origem a série” com a direção de Benê de Oliveira,  o Benão, e aqui termino dizendo que agradeço também ao Márcio Gouveia, o cara que me mostrou o jeito de não fazer teatro.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Como não moro mais na cidade, ultimamente tenho visto poucos trabalhos da região, os últimos que vi foram: “Resumo de Ana,” com o grupo Manto, “Astraças e suas Quinzenas,” com a Panã Pana Cia de Artes, “Astros, Patas e Bananas,” com o grupo Katharsis, mesmo de longe consigo acompanhar alguns acontecimentos da classe, e digo que foi uma grande tristeza não ter acontecido no ano passado o festival de teatro de Sorocaba,  festival que inclusive eu já participei duas vezes, a Sated ajudou a desunir os artistas da cidade, digo não todos, mas uma parte deles, que tristeza. Mas não posso deixar de dar os parabéns aos grupos que estão vigorosos trabalhando, é um povo bravo que resiste e coloca seus projetos em pé, se ocê trabaiá, vinga fio, vinga fia, pode acreditá. Muito obrigada Lisa, me proporcionou uma viagem maravilhosa no tempo, muitos beijos.
Angela Maria Prestes.“O TEATRO EDUCA.”

Angela Maria Prestes, atriz, iniciou sua carreira na cidade de Sorocaba. Formada pela Escola Livre de Teatro (ELT) de Santo André, atualmente trabalha na nova montagem da Cia São Jorge de Variedades e também integra um grupo que trabalha com Máscaras na ELT, com direção de Cuca Bollafi.



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