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quarta-feira, 27 de julho de 2011

SENSO TEATRAL COM CARLOS DOLES

SP Escola de Teatro (link abaixo), tem uma seção chamada Papo de Teatro, que apresenta entrevistas com várias personalidades da área.
Achei interessante promover aqui no Ensaios e Cenaso mesmo formato dando destaque aos artistas da nossa região.
O convidado agora é Carlos Doles, dono de uma "alegria teatral" contagiante...

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Quando pequeno, lá pelos meus 06, 07 anos, já adorava brincar de apresentador de telejornal, novela, etc. Aos 09 anos comecei a acompanhar minha irmã mais velha em alguns de seus ensaios de teatro na Casa da Cultura de Piedade, até que o saudoso diretor Paulo de Andrade me encaixou como auxiliar de uma bruxa no espetáculo “A Bruxinha que era Boa”. Mas foi aos 16 anos que de fato descubro a paixão pelo fazer teatral, quando entro no grupo da escola que estudava (já em Sorocaba) sob a direção do queridíssimo Ademir Feliziane.
Lembra da primeira peça a que assistiu?
“O Casamento da Dona Baratinha”, creio que vi em 1989 ou 90. Logo depois, como já disse na resposta anterior, começo a acompanhar minha irmã e a assistir muita coisa lá em Piedade.
 Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
“Till Eulenspiegel” com a Fraternal Cia. de Artes e Malas Artes, me apresentando o teatro popular, narrativo e de grande qualidade artística.
Um espetáculo que mudou a sua vida.
“...E o céu uniu dois corações” montagem com o Grupo Manto me abre o panorama do teatro profissional. Foi depois da temporada que, de fato, decido seguir pelo caminho do teatro profissional. “Histórias Banais” com direção de Rodrigo Scarpelli, também modifica, mas desta vez, minha visão estética teatral, e altera meu fazer artístico e minha pesquisa como ator.
Você teve algum padrinho no teatro?
Todos os diretores com quem trabalhei foram fundamentais em minha formação, mas inegavelmente Hamilton Sbrana foi singular. Um grande amigo e incentivador. Foram dezenas de espetáculos juntos, extremamente significativos para minha formação e conduta teatral.
Já saiu no meio de um espetáculo?
Já sim, creio que umas duas ou três vezes. Acredito, que depois de ter pesquisado e trabalhado com o teatro popular, esse mito do “Sair” durante um espetáculo, caiu por terra para mim. O teatro popular busca a aproximação com a plateia, e principalmente sua independência. Se gosto fico, se não me vou. É claro que a sala de teatro tem suas próprias regras, mas se o espetáculo não está me afetando, se não está me seduzindo ou me comunicando, e se a porta dos fundos estiver aberta e minha saída não atrapalhe ninguém, posso sim ir embora.
Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Todos os que vi da Fraternal Cia. De Artes e mais uma porrada de outros que vi por aí. Existem espetáculos que são deliciosos de assistir, mas existem outros que, além de deliciosos para assistir, são tentadores para se fazer. Não sei explicar direito isso... e não tem um motivo comum em todos que vejo, mas posso afirmar que morri muito de vontade de fazer vários espetáculos.
Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim, alguns. Geralmente é porque eles têm algo que me chama a atenção, que me comove. Lembro de ter visto duas vezes o espetáculo “Hysteria” do Grupo XIX, em dois espaços diferentes. Foi belíssimo perceber o trabalho de apropriação espacial do grupo.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? Estrangeiro?
Luiz Alberto de Abreu é um dos meus favoritos. Gosto muito do que Augusto Boal deixou, Bertold Brecht, Federico Garcia Lorca, entre outros.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Gosto muito do Grupo Galpão, Fraternal Cia., Grupo XIX, Folias D´arte, entre outros.
Qual gênero teatral você mais aprecia?
Gosto do Teatro Vivo, pulsante, humano... O teatro do aqui agora... Sou fã do bom teatro, não muito “intelectualóide” ou muito antiquado. Gosto do popular, mas amo as novas tendências “pós-tudo”. Gosto da bagaceira, mas me emociona fácil o poético. Adoro circo, clown, rua, mas curto muito um bom e velho clássico montado a partir de questões pulsantes e pungentes.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existe sensibilidade, gosto, anseios, dúvidas, pesquisas, equívocos. Existe teatro feito “de qualquer jeito”, sem ponto de partida e sem rumo, esses talvez não interessem tanto, para mim, é claro. Mas também existe TEATRO DE QUALQUER JEITO, independente de condições, com comunicação e coração. O fazer é fundamental, e se teatro, na origem da palavra, é o lugar de onde se vê, então precisamos sim tornar públicas nossas obras. É a relação com o público que vai determinar o teatro. Bom e ruim são conceitos muito relativos e subjetivos.
Cite um cenário surpreendente.
Do espetáculo Lês Éfhémères com o Théâtre Du Soleil.
Cite uma iluminação surpreendente.
Nossa, acho que não consigo responder isso...
Cite um ator/atriz que surpreendeu suas expectativas.
Gero Camilo em “Aldeotas”, maravilhoso!
O que não é teatro?
Teatro não é só. Não é só texto, não é só ator, não é só palco ou rua, não é só corpo, não é só pesquisa, não é só dinheiro, não é só diversão, não é só teoria, não é só isso ou aquilo. Teatro é conjunto, é isso, aquilo e aquilo outro. Teatro é Também, é como, é tanto e é quanto. Teatro é ação + diversão + assistência + , +, +...
A idéia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Cabe! Tudo é válido, nem que seja para depois jogarmos fora, no lixo. Grandes ideias da história da humanidade (e do teatro também) surgiram assim, no Vale Tudo!
Na era da tecnologia, qual o futuro do teatro?
Penso que o futuro do Teatro seja a existência na perseverança. Já devíamos ter acabado com o cinema e não acabamos. O rádio ia nos matar, e não nos matou. A TV iria destruir a arte teatral, e não destruiu. Agora a internet vai acabar com a gente! Acho que não. Não sei como, nem porque, mas estamos aí, fazendo. E enquanto tiver um único ser a fim de ver nosso trabalho, nós trabalharemos!
Em sua biblioteca não podem faltar quais livros/peças?
História do Teatro, Jogos teatrais (do Boal, da Spolim, etc). Brecht, Contos Populares (Câmara Cascudo), Peter Brook... Aí tantos outros, adoro!!! Quem quiser pode me dar livro de presente!!!
Cite um (a) diretor, um (a) autor e um (a) ator que você mais admira.
Peter Brook, Luiz Alberto de Abreu e Gero Camilo.
Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você conhece.
Se o espaço se propõe a ser um “Teatro Convencional” ele deve oferecer uma estrutura mínima para aqueles que vão utilizá-lo com este fim. Quantas e quantas salas de teatro “meia boca” não encontramos por aí... Mas acho que isso é pequeno. A maior questão é o acesso a esses espaços, convencionais ou não. Até a rua, lugar público do público, enfrenta problemas de acessibilidade teatral. Em algumas cidades de nosso país é proibido apresentação em lugares públicos, em outras se tem que pagar para utilizar e assim vai.
Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena Imagens específica?
Imagens do “Histórias Banais” por conta da utilização do espaço.  E imagens da peça que dirijo que está em cartaz aqui no Espaço da Trupe Koskowisck: “A Incrível Vuagem de Jacó Vemcá em busca da Verdade” do Núcleo Descobrir Teatro.
O teatro é uma ação política? Por quê?
Sim. O Teatro é político, pois congrega, estimula o social. Questiona. Democratiza.
Por que você faz teatro na região?
Porque aqui nasci, aqui me criei e aqui descobri inúmeras possibilidades. Fazer teatro não é fácil. Aqui, em São Paulo, no Rio. Em qualquer lugar. Mas é possível fazer e viver de teatro em nossa região. Sorocaba é um pólo. Umas das principais cidades do país e merece um bom e forte teatro. Por acreditar nisso tenho a cidade como minha sede. E é sempre bom levar nosso trabalho e ministrar oficinas pelas cidades que nos rodeiam.
Algumas palavras sobre o teatro da região.
Um teatro importante. Muitos atores e atrizes de nossa região hoje estão em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outros cantos desse país. E começaram aqui, são filhos desta terra. Nossa região é muito rica na pesquisa e produção teatral. Temos cursos superiores em Teatro em Sorocaba e em Salto. Temas várias escolas livres, o Conservatório de Tatuí, A Oficina Cultural Grande Otelo que mantém inúmeras oficinas por toda região. Temos grupos profissionais que já são referência em todo o estado. Temos um passado de dar orgulho e um futuro a fazer. Mas temos um presente onde o fazer toma conta dos palcos, praças, galpões, escolas, igrejas, garagens, quintais, parques, ruas, etc. 
Temos o teatro como presente! Merda para todos nós.


Ator profissional. Graduado em Teatro - Arte Educação pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Participou como ator em diversos grupos da cidade de Sorocaba e em diversas peças como “Cibernética”, “Pilatos” e “Mama na Ama” (Cia Camarim de Teatro), “Romeu e Julieta” e “E o Céu Uniu Dois Corações” (Grupo Manto), “Histórias Banais” (Confraria Quituteira de Teatro), “A Sobrinha de Creonte” (Cia Desmedida de Teatro), além de diversos trabalhos artísticos dentro e fora do país com a Empresa Coan Alimentos. Coordena e dirige o Núcleo Descobrir Teatro, o Núcleo Teatroterapia. É professor de Jogos Teatrais e Montagem Teatral na Escola Técnica de Arte e Comunicação (ETAC). Ministrou diversas oficinas através da Oficina Cultural Regional Grande Otelo e no Projeto “Oficinas do Saber” da Prefeitura Municipal de Sorocaba. É ator contratado da Cia. Estável do Conservatório de Tatuí onde atua nas montagens “Rosa de Cabriúna” (2009) e “Vereda da Salvação” (2010). Pesquisa a linguagem do clown, da rua e do teatro popular desde 2005 com a Trupe Koskowisck, onde criou e atuou em cerca de 15 espetáculos. A Trupe está em temporada com seu novo espetáculo “O Moço que casou com Mulher Braba”.



3 comentários:

  1. Ahhh que ótimo ele ser entrevistado.
    Adoro o Carlinhos!
    Excelente ator e uma pessoa maravilhosa!

    Sucesso!

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  2. Melhor professor que tivemos, obrigada por tudo Carlinhos!
    Abraços de todo o elenco de "Acorda Bonita"!

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